Transgênico chega à mesa do brasileiro
2005-09-30
Mamão, feijão e batata mais resistentes, arroz enriquecido com vitamina A e
alimentos com maior concentração de ferro e zinco. Daqui a poucos anos, a mesa do
brasileiro estará repleta destes produtos, todos geneticamente modificados, alguns
transgênicos, outros com melhoramento convencional. Mas não há o que temer, porque
terão qualidade e segurança, após passarem, em média, por pelo menos cinco anos de
pesquisas e exaustivos testes.
A garantia é da pesquisadora Marília Nutti, da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), que participa do IV Congresso Brasileiro de Biossegurança e
IV Simpósio Latino-Americano de Produtos Transgênicos. O evento terminou ontem (30),
no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre, organizado pela Associação Nacional de
Biossegurança (ANBio). Ela é integrante de um grupo de especialistas das Nações
Unidas.
Segundo Marília, a Embrapa está desenvolvendo um mamão resistente ao vírus da mancha
anelar, um problema que atinge produtores do Espírito Santo e sul da Bahia. Quando o
mamoeiro é atacado, precisa ser erradicado, provocando grande prejuízo.
O feijão resistente ao vírus do mosaico dourado também vai provocar impacto entre
pequenos produtores, que não terão mais a preocupação com a quebra de 50% na
produção. A batata sem problemas de ser atacada pelo vírus que causa enrolamento das
folhas é outra cultura pesquisada.
– Tivemos atraso de quase três anos nestas pesquisas, por causa da legislação
brasileira, mas agora estamos podendo ir a campo, fazer as plantações para futuros
testes-, explicou Marília, acrescentando que também há projetos de melhoramento
convencional - não-transgênico - para arroz enriquecido com vitamina A, feijão e
milho com mais ferro e zinco.
– É importante que tenhamos a oportunidade de utilizar todas as técnicas disponíveis,
sem restrições, só assim saberemos qual é melhor para produtores e, principalmente,
consumidores-.
Sobre a questão da saúde humana, a pesquisadora fez questão de salientar que os
alimentos produzidos a partir de vegetais transgênicos têm sido submetidos a mais
testes do que qualquer outro alimento na história. Ela citou o exemplo do kiwi,
fruta obtida através de cruzamentos, se nenhuma tecnologia transgênica, mas que
produz reações alérgicas. – Se o kiwi tivesse passado pelos mesmos testes e
avaliações realizados com os transgênicos talvez não chegasse ao mercado, porque
causa alergias-, afirmou.
Marília também elogiou a atitude do governo argentino que, quando libera um produto
transgênico, o faz tanto para animais quanto para humanos. No Brasil, a soja está
liberada totalmente, o milho tem somente autorização para consumo animal e o algodão
ainda encontra pendências. (Página Rural, 29/09)