Sacolas de plástico estão entre os maiores poluidores
consumismo
2005-09-29
A van do supermercado chega. Embora minha lista de
compras seja muito curta, o número de sacolas que o
motorista descarrega é grande. Eu peço a ele para checar se
as encomendas da mercearia são mesmo para mim. Ele lê meu
nome e endereço a partir de uma planilha. Ainda com
suspeita, eu verifico as poucas sacolas. Em uma delas há
peito de frango, em outra, apenas uma garrafa de
descolorante. O vinho tem outra sacola, mas o pão divide
espaço com uma sacola que tem pão especial. Quando termino
de desembrulhar tudo, estou com uma pilha de sacolas de
plástico. Eu guardo algumas em uma outra sacola maior, que
já está cheia de sacolas plásticas - de onde eu as reutilizo
para carregar sanduíches - , mas a maioria vai acabar na
llixeira.
Estima-se que na Inglaterra se usem 10 bilhões de sacolas de
plástico por ano. –E este é um número conservador–, afirma
Richard Swannell, da empresa sem fins lucrativos WRAP
(Programa de Ação sobre Resíduos e Recursos). – O número pode
chegar a mais de 17 bilhões–, acredita ele.
Na semana passada, a WRAP lançou um projeto piloto em
Bristol e Edimburgo a fim de tentar educar as pessoas para
reutilizarem suas sacolas plásticas com maior freqüência.
Uma campanha parecida na Austrália levou a uma redução de
25% no uso, de modo que Swannell tem grandes esperanças
quanto à Grã-Bretanha. Certamente os britânicos têm um
longo caminho a percorrer neste aspecto.
No entanto, este não é um problema sem solução. Bangladesh,
Taiwan e África do Sul baniram inteiramente a produção e o
uso de sacolas plásticas, assim como o fizeram alguns
Estados na Índia. As pessoas que burlam a lei são multadas.
Outros países, como a Austrália, a Alemanha e a Irlanda
adotaram medidas mais leves. Na Irlanda, paga-se 15 cents por uma sacola de plástico. Desde que esta
regulamentação foi introduzida, em 2002, houve uma queda de
90% no uso de sacolas plásticas.
– Na Alemanha, as sacolas de plástico estão se tornando
mercadorias raras–, afirma a alemã Sonja Klug. –Nos
supermercados, você tem que comprar sacolas de plástico
reutilizadas ou as belas sacolas de linho,- afirma. Sonja fica
chocada com a extravagância dos comerciantes britânicos.
–Digo 20 vezes por semana: Sacolas não, por favor. Acho loucura as pessoas comprarem uma sacola apenas para levarem um sanduíche para o trabalho,– opina.
Talvez o banimento das sacolas plásticas seja uma medida
bastante drástica - afinal de contas, elas são usadas para
recolher fezes de cachorros -, mas por que os supermercados
não cobram por elas? Afinal de contas, uma pesquisa recente
mostra que 63% dos britânicos seria favorável a pagar 10
centavos por uma sacola plástica.
–Acho que seria um choque o sistema retirá-las de circulação
de repente–, disse uma porta-voz do supermercado Tesco. Eu lembrei a ela
do sucesso que a medida fez na Irlanda. –Esta é a estratégia
deles–, afirmou a porta-voz . –Mas para nós, é algo com que
nossos consumidores se sentem confortáveis e algo de que
gostam. Nossa abordagem e educá-los para oferecer-lhes a
chance de reduzirem o número de sacolas que carregam–,
completa.
As sacolas de plástico são um grande problema. Embora elas
façam parte de apenas 1% do lixo jogado nas ruas, em peso, são
a forma mais visível de poluição. Elas arruínam a saúde
ambiental dos parques e áreas abertas, voam em árvores e
engancham em cercas. Constituem 50% do lixo encontrado na
costa britânica e são responsáveis pela morte de cem mil
mamíferos marinhos e milhões de pássaros todos os anos. As
sacolas que vão pra aterros levam cerca de mil anos para se
degradar e uma vez degradando-se, liberam toxinas que
penetram no solo e, potencialmente, nos aqüíferos.
Então, por que as pessoas continuam usando sacolas na
Inglaterra? –A diferença ambiental entre sacolas de papel e
de plástico é marginal–, diz Vicki Procko, do Conseho
Industrial de Embalagem e Meio Ambiente
(INCPEN). Mas, de modo surpreendente, a ONG Amigos da Terra
argumenta: –Sacolas de papel têm menor capacidade de serem
reutilizadas e requerem mais energia e recursos para a sua
produção e transporte do que as alternativas de
plástico.
Para alguns, a solução seriam as sacolas biodegradáveis. A
porta-voz da Tesco informou que todas as suas sacolas serão
biodegradáveis até o final deste ano. Essas novas sacolas
irão começar a se degradar 60 dias após o uso.
(Fonte: The Independent, 26/9. Por Clint Witchalls)