Pataxós derrubam parte de fazenda de eucalipto
2005-09-28
Os pataxós já derrubaram cinco dos 200 mil hectares da fazenda de eucaliptos da empresa Veracel, Água Vermelha, que faz divisa com a aldeia do Guaxuma e foi ocupada na madrugada de ontem por cerca de 200 índios. Eles requerem a posse da área, situada na base do Monte Pascoal (extremo sul do estado), e tradicionalmente conhecida como de propriedade indígena, segundo missionários que atuam na região. A ação dos índios aconteceu na véspera da inauguração da fábrica local da Veracel Celulose, marcada para hoje, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A área está em processo de estudo por um Grupo Técnico da Fundação Nacional do Índio (Funai), desde 1999. No entanto, até o momento o resultado final do estudo antropológico e fundiário não foi apresentado. Por isso, os pataxós estão solicitando o fim do plantio e de quaisquer atividades das empresas de eucalipto nas áreas onde estão sendo realizados os estudos técnicos. Às 9h de hoje, representantes da aldeia se reunirão com o presidente da Funai, Rolf Hackbart.
Os índios denunciam que o plantio das árvores na área está secando os rios e envenenando o solo. Em comunicado oficial, a Veracel anunciou que já sabe da ocupação mas não vai se manifestar, porque não foi procurada pelo grupo. Segundo lideranças indígenas, homens da Veracel estão destruindo plantas nativas, coqueirais, mudando o relevo da terra e atingindo as fontes de água.
— Em muitos pontos o veneno não distancia 2m das casas da aldeia. A 100m do local que está sendo preparado, fica a única fonte de abastecimento de água, usada por toda a comunidade. As crianças e as criações estão em contato direto com o veneno - diz o representante dos indígenas, Robson Pataxó.
Os índios também queixam-se de viver tão próximo das plantações de eucalipto, que em determinados pontos está a menos de 100m da aldeia.
— Estamos ficando sem área para plantar e para viver e sabemos que essa é uma área que nos pertence, por isso não vamos mais permitir que eles permaneçam devastando essa reserva - acrescentou Robson Pataxó.
A propriedade do terreno é da Veracel há pelo menos quatro anos. Situada no extremo sul do estado, a fazenda, segundo análise dos missionários do Conselho Indígena Missionário (Cimi), não respeita as leis ambientais que determinam uma distância de, pelo menos, 10km das áreas de preservação ambiental para a devastação.
A ocupação foi liderada pela Frente de Residência e Luta Pataxó e conta com o apoio de outras aldeias vizinhas. Na área devastada, segundo Robson pataxó, está sendo construído um acampamento que garantirá a posse da área.
— Nós já alertávamos sobre o problema no documento final da IV Assembléia da Frente de Resistência, realizada em agosto de 2005. Essa empresa vem agredindo nosso meio ambiente, cooptando nossas lideranças com distribuição e promessas de benefícios com o objetivo claro de nos dividir e continuar invadindo nosso território - concluiu ele. (Correio da Bahia, 28/07)