Frei brasileiro inicia greve de fome contra a transposição do rio São Francisco
2005-09-28
O frei Luís Flávio Cappio, bispo da Barra, Estado da Bahia, começou nesta segunda-feira, 26, uma greve de fome contra a transposição do rio São Francisco e a favor de sua revitalização. Ele está na capela em Cabrobó, Pernambuco, próximo ao local da tomada dágua do eixo norte da transposição. Ele enviou uma carta ao presidente Lula falando sobre sua iniciativa:
— Quem sabe seja uma maneira extrema de ajudá-lo a entender pelo coração aquilo que a razão não alcança.
Frei Luís Flávio Cappio também fez o registro em cartório de uma declaração em que explica os motivos da greve de fome e assegura que só irá suspendê-la quando o presidente assinar um documento revogando e arquivando o projeto de transposição.
Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Felix do Araguaia, Mato Grosso, manifestou sua solidariedade à ação de frei Luís:
— Estamos de coração unidos ao querido irmão Dom Luís e, com ele, ao clamor nacional e internacional que exigem que o Governo Federal reveja sua decisão, tão contestada e com argumentos tão sérios, de levar a cabo o projeto da transposição do rio São Francisco.
Dom Luís Cappio há 40 anos vive no Médio São Francisco. Em 1997, tornou-se o bispo da Barra. Antes, circulava pelas comunidades ribeirinhas, de quem se tornou muito querido. Entre 1993 e 1994, na companhia de mais três companheiros, realizou a Peregrinação do São Francisco, caminhando por um ano da nascente à foz, numa mobilização popular-religioso-ecológica em defesa do Rio, que marcou a história ribeirinha.
Em apoio a seu gesto em favor do rio São Francisco e contra a transposição, a Comissão Pastoral da Terra também emitiu uma nota de solidariedade ao religioso. Na nota, a entidade destaca que foi D. Luís, junto com Adriano Martins, Ir. Conceição e Orlando Araújo que, numa peregrinação ao longo do São Francisco entre 1993 e 1994, chamaram a atenção para a degradação do rio.
— Foi a partir daí que a sociedade se organizou para exigir a revitalização do São Francisco, hoje um consenso em nível nacional. Quem sabe seu gesto também não obrigue a sociedade brasileira e o governo a serem mais sérios e responsáveis diante de uma obra insana como a transposição - diz o documento. (Adital, 27/09)