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2005-09-27
A proibição legal de derrubar a castanheira-do-pará, símbolo da Amazônia, cria cemitérios de árvores mortas em pé que cobrem a região de Marabá, no sudeste do Pará. Tudo por conseqüência do desmatamento à sua volta. A maioria da árvores é o que sobrou da exploração madeireira legal e ilegal.

O local era um pólo de castanhais até a década de 1950. Hoje, pequenas serrarias, espalhadas em cidades como São Domingos do Araguaia e São Geraldo do Araguaia, mantêm o corte a despeito do que diz a lei. Em uma operação de fiscalização do Ibama, os técnicos encontraram três serrarias dentro da zona urbana de São Domingos. Elas já haviam sido multadas antes por serrarem castanheira e serviam como depósito para árvores derrubadas.

Deitadas no chão, toras com 1,5 metro de diâmetro esperavam a vez para serem transformadas em material para construção civil. Marcas recentes no chão de terra mostravam que toras tinham passado por ali recentemente. No fundo, um monte com mais de 2 metros de altura de serragem vermelha, sobra de castanheira, virou palco de brincadeira das crianças.

Segundo o engenheiro florestal do Ibama Norberto Neves, as árvores encontradas ali eram bastante jovens, com cerca de 25 anos. Apesar da tenra idade, todas mostravam sinais de morte precoce.

A castanheira-do-pará (Bertholletia excelsa), em condições normais, pode viver de 500 a 600 anos dentro da floresta, produzindo frutos continuamente do alto de seus 50 metros de altura.

A mata ao redor é essencial para sua sobrevivência, pois fornece proteção contra o vento, alimento para o solo e um caminho para que as abelhas polinizadoras façam seu trabalho.

A retirada progressiva da floresta em volta da castanheira a deixa isolada. A queimada que se segue, usada pelo homem para limpar a área de cipós, pequenas plantas e animais, empobrece o já fraco solo amazônico e agrava a saúde da árvore. Combalida, ela resiste por pouco mais de uma década.

— Claro que existem castanheiras em pé há mais de dez anos depois da retirada da mata ao redor. Mas elas têm um sucesso reprodutivo reduzido ou igual a zero.

A explicação vem do pesquisador Carlos Peres, natural de Belém, mas trabalhando atualmente na Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha. Segundo ele, de pouco adianta manter a árvore em pé se não existe floresta para acompanhá-la, pois a abelha não chega até ela e não consegue carregar o pólen, interrompendo o fluxo gênico.

A área de vida, ou de distribuição, da espécie toma todo o bioma, inclusive na porção dos países vizinhos. Abundância mesmo ocorre no Brasil, onde a extração da castanha atinge 45 mil toneladas por ano, o que equivale a US$ 33 milhões. Só que a árvore tem rareado, e muito, em toda o arco do desmatamento, que compreende a área sul e leste da Amazônia.

Existem iniciativas para replantar a B. excelsa, como o projeto do tio João, em Marabá, e explorá-la de forma sustentável, como no Alto Cajiri, no Amapá.

Só que nem uma coisa nem outra tem sido feita sempre da melhor maneira.

A exploração indiscriminada e intensiva atinge principalmente as árvores jovens, o que não permite que haja renovação das velhas - um modelo que pode entrar em colapso em médio prazo.

Já o reflorestamento não funciona se não houver o plantio de outras espécies de mata nativa junto ou em uma área de mata secundária.

— A castanheira é uma árvore de floresta. Não adianta proteger um sem o outro - diz Peres. (O Estado de S. Paulo, 25/09)

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