Macaé vai à luta contra a degradação ambiental
2005-09-27
A emoção como veículo para a educação ambiental. A exploração do petróleo na Bacia de Campos não rende somente royalties para os municípios da região. Os problemas estão chegando juntamente com a expansão industrial e a explosão demográfica, principalmente em Macaé. O rápido crescimento é uma ameaça aos mananciais, rios, lagoas e ao Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, um paraíso ecológico com 14 lagoas preservadas que começa em Macaé e vai até a divisa de Quissamã com Campos.
A partir de amanhã, 720 estudantes de escolas públicas e particulares e cerca de cem moradores de Macaé entram na guerra contra a degradação ambiental da região. Eles serão os pioneiros do projeto artístico de educação ambiental Planeta Água Macaé, idealizado pela artista plástica e ambientalista Vera Patury, que está levando para o Norte Fluminense o projeto que lançou na Itália em 1999.
As oficinas do programa começam na segunda-feira. O Planeta Água, que já percorreu mais de 30 cidades brasileiras e foi premiado em julho no Simpósio das Águas em Cannes, na França, será lançado oficialmente na terça-feira no Teatro Municipal de Macaé.
— O projeto estimulará os alunos a se ligarem emocionalmente com a questão da preservação da água. Os recursos naturais não são eternos. Vamos ensinar os alunos de 3 a 80 anos a reduzir o consumo, reciclar e reutilizar a água - explicou a artista plástica, que vai desenvolver o projeto com apoio da prefeitura de Macaé, do Globo Ecologia e com patrocínio da empresa Krest do Brasil, que vende produtos hidráulicos usados na exploração petrolífera.
Divididos em grupos, os alunos assistirão a vídeos ecológicos e participarão de oficinas artísticas e palestras educativas. Elas vão receber cartilhas ecológicas e, ouvindo sons alusivos à água, produzirão painéis simbolizando pedaços de uma cachoeira usando teares rústicos com fios de plástico,
— Diante da riqueza dos nossos recursos hídricos, nós temos a tendência a achar que a abundância é infinita, quando na verdade não é. A água é um bem que está se tornando escasso - diz a ambientalista.
Projeto quer despertar senso de responsabilidade
Segundo Vera Patury, um dos objetivos do projeto é fazer aflorar nos participantes um sentimento de responsabilidade e participação visando à preservação da natureza.
— A experiência de agregar a linguagem artística à educação ambiental é muito interessante. O trabalho artístico de Vera Patury é universal e nós adaptamos ao programa os conceitos locais sobre o meio ambiente. O Planeta Água será um grande aliado no projeto de transformar Macaé num grande centro produtor de mudas de espécies da Mata Atlântica. A própria Krest do Brasil está montando seu viveiro - disse o secretário municipal de Meio Ambiente de Macaé, Fernando Marcelo Tavares.
Para o professor Francisco Esteves, coordenador do Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé (Nupem), vinculado à UFRJ, o projeto chegou em boa hora. Em novembro, será inaugurado o prédio, construído pela prefeitura, do primeiro campus da UFRJ fora do Rio.
No local funcionarão o curso de biologia e as novas instalações do Nupem, voltados para pesquisas ecológicas.
— Como Macaé passa por um processo intenso de degradação dos seus recursos hídricos, iniciativas como estas têm que ser vistas com bons olhos. As crianças de hoje serão os administradores dos municípios num futuro bem próximo - lembrou o professor.
O Teatro Municipal de Macaé fica na Avenida Rui Barbosa 780, no Centro (telefone 22-2772-4955). A exposição da instalação coletiva do projeto ficará no local, aberta à visitação pública, até 5 de outubro. (O Globo, 25/09)