Incêndio nas florestas do Acre continuam apesar das chuvas
2005-09-27
A chuva da madrugada desta segunda-feira, no Acre, refrescou, mas não acabou com o incêndio nas florestas do estado. Um volume de chuva intenso, capaz de apagar o fogo, ainda vai demorar.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e o Laboratório Federal do Acre prevêem chuva só para segunda quinzena de outubro. — Ao menos ganhamos tempo para reorganizarmos nossa ação-, disse o gerente do Ibama em Rio Branco (AC), Anselmo Forneck.
O fogo, que atingiu a Reserva Extrativista Chico Mendes, já atravessa reservas e terras produtivas particulares. Além da floresta, a destruição tocou pasto de animais e plantações, afetando a economia. O fogo chegou às copas das árvores, o que, segundo Anselmo, explica a gravidade do problema e a decretação pelo governador Jorge Vianna do estado de emergência nos 12 municípios do Acre. Trinta crianças morreram com problemas respiratórios, 11 delas na capital. O fogo queimou pessoas e matou queimados animais silvestres como paca, cotia, jabuti, macacos, tatus, preguiças e também domesticados, como bois, vacas e ovelhas.
Especialistas - Segundo Anselmo, nas próximas horas chegam ao Acre 15 especialistas do Prevfogo, do Ibama. Eles conhecem técnicas modernas para debelar o fogo e orientarão o trabalho de campo.
O Corpo de Bombeiros de Brasília enviará hoje à região 150 homens. Eles reforçarão contingente de outros 150 bombeiros e brigadistas que há dias tentam apagar as chamas, muitos deles doentes, com desidratação e problemas respiratórios. Há pelo menos um caso de Malária. Anselmo diz que o governador não quis aceitar voluntários civis nas ações, com medo de baixas.
Por enquanto apenas um helicóptero está a serviço dos combatentes. (Ibama, 26/9)
Mudanças climáticas podem ser uma das causas dos grandes incêndios florestais no Acre, segundo Ibama
Regiões que antes não sofriam com a seca agora passam semanas e até meses sem chuva. Essa pode ser uma das explicações, segundo o Instituto Brasileiro do Meio-Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para os incêndios que devastam áreas florestais no Acre há uma semana.
— Precisa haver uma ampliação de todo o trabalho que temos feito nos últimos anos em relação à prevenção de queimadas, pois fenômenos meteorológicos que antes não ocorriam estão começando a acontecer, modificando o panorama que normalmente temos para a região-, observa o assessor especial da Diretoria de Proteção Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio-Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Kleber Alves.
Para Alves, essa seca prolongada na região é um fenômeno meteorológico que já está sendo estudado. É preciso, explica, identificar as causas e verificar se faz parte de algum ciclo de longo curso ou se é um fenômeno esporádico, que não vai se repetir nos próximos anos.
Ele diz que assim como o estado de Roraima conviveu com o fenômeno do El Niño e La Niña, que altera a seca e as chuvas na região, podemos estar experimentando a introdução de um novo fenômeno na região.
As equipes do Ibama estavam preparadas para o que tradicionalmente acontece no estado do Acre, pequenas queimadas, chamados roçados, que nunca evoluíam para incêndios florestais de grande proporção. — Só que essa situação climática intensa, negativa, fez com que essas pequenas queimadas evoluíssem para incêndios florestais de grandes proporções e de difícil combate-, diz Alves.
De acordo com Kleber Alves, a falta de infra-estrutura para o acesso rápido à região do incêndio (reserva estrativista Chico Mendes, na região de Xapuri) tem sido a responsável pela demora no combate ao incêndio. — Nós não temos estradas. Ali, é local de estrativismo. Não têm muitos ramais de acesso aos locais onde estão os focos de incêndio que estão exigindo logística de transporte comunicação e de acampamento para o pessoal que está no combate e estruturas muito grande-, explica ele.
O assessor especial do Ibama explica que, apesar do trabalho para conter o fogo, a extinção mesmo só será possível com a vinda das chuvas e o aumento da umidade relativa do ar na região de floresta, que, na semana passada, chegou à inacreditável marca de apenas 20%.
Essa umidade relativa do ar, conforme ensina Kleber Alves, só é verificada na região do Planalto Central, onde se tem uma altitude elevada, muitos ventos e uma região de cerrado com intensa insolação do solo. — Na região de floresta, chegar a 20% de umidade relativa do ar é algo extremamente raro-. (Agência Brasil, 26/9)