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2005-09-26
Preocupado em combater o tráfico de animais e plantas, e o desmatamento, além de intermediar a criação de uma economia sustentável capaz de erradicar as formas de trabalho que degradam a floresta, o Programa Ambiental de Recuperação e Educação (Pare) pretende se instalar, no final de outubro, no Oeste do Pará. Após passar cinco meses na região no ano passado, o biólogo e consultor de comportamento animal Hélio Costa de Almeida, que vive em Joinville, idealizou o programa e logo obteve o apoio dos historiadores Evandro Cegati e Paulo Henrique Ferreira, além da bióloga Sarita Payá.

Após pesquisar sobre o tráfico de animais silvestres, desmatamento e venda de madeira clandestina, conversar com os moradores da floresta, ter visto a pobreza da região e desconhecimento das leis ambientais, Almeida resolveu fazer alguma coisa, tanto na pesquisa ecológica quanto no aspecto social.

— Não posso ficar sem fazer nada após ver como eles traficam os animais e como os capturam. Nem como queimam a mata e destroem a biodiversidade - desabafa.

A preocupação de Almeida é desenvolver projetos eficientes e ecologicamente corretos, e mostrar para as comunidades que elas podem viver na floresta amazônica sem destruí-la. A idéia é promover a conscientização de que a retirada da madeira de forma clandestina, o tráfico de animais silvestres e a biopirataria ameaçam a vida das futuras gerações.

— Queremos mostrar que a degradação da fauna e flora e a falta de pesquisas sobre estes seres vivos pode não apenas acabar com a mata, mas fazer com que deixemos de conhecer a nossa riqueza natural - explica o biólogo.

A intenção da projeto é investir na integração das comunidades da região e na determinação em transformá-las em defensores da floresta amazônica, tornando vital o reconhecimento da responsabilidade coletiva dos problemas ambientais.

— Esperamos criar alianças entre os segmentos da sociedade e vencer os desafios propiciando melhorias na qualidade de vida e contribuindo na recuperação de áreas degradadas da floresta - completa Almeida.

O Pare pretende pesquisar o que a natureza proporciona e trabalhar com a preservação ambiental, apresentando meios como a implantação do ecoturismo e trabalho de conscientização e educação. Mas, segundo o biólogo, o maior problema é que as quadrilhas que atuam nas regiões mais pobres da floresta aproveitam as péssimas condições de vida das pessoas e as transformam em captores ou caçadores, por conhecerem os caminhos da floresta e o hábitat dos animais.

— Vi pessoas vendendo animais por R$ 100,00 ou trocando por cestas básicas para sobreviverem. Nós queremos mostrar que há como obter fonte de renda sem prejudicar a natureza - alerta Almeida.

Plano de ação envolve seis equipes e tem duração de, no mínimo, três anos
O plano de ação do Pare envolve seis equipes, divididas em flora e solos, fauna, limnologia e recursos hidrícos, sociocultural, ecoturismo e desenvolvimento sustentável e combate ao desmatamento e ao tráfico de animais e plantas. O trabalho deve ter no mínimo três anos de duração, contando com o apoio voluntário de biólogos, historiadores, engenheiros ambientais e florestais, veterinários, antropólogos e outros profissionais e recém-formados que aceitem o desafio.

Para que a expedição comece a trabalhar no final de outubro, os fundadores do programa estão buscando parcerias e voluntários que queiram integrar a equipe.

— Estamos em contato com a iniciativa privada para financiar os profissionais do meio ambiente. E já temos contatos em algumas cidades onde o programa vai ser implantado - destaca o biólogo Hélio de Almeida.

Segundo ele, alguns governantes e empresários já conhecem o projeto e já viabilizaram local para ficar. A base deve ser fixada em Redenção ou Altamira. A equipe também pretende fechar parcerias com Ibama, Polícia Florestal e outros órgãos que visam à proteção do meio ambiente para que os crimes contra a biodiversidade sejam pelo menos controlados.

— Se nada for feito, vamos ver a nossa fauna e flora irem embora. E além de denunciar os crimes, priorizamos a conscientização ambiental - conclui.

Além de realizar pesquisas em comunidades nas esferas ecológicas e sociais, o programa espera determinar quais métodos, estruturas e materiais poderão ser usados, assim como promover palestras e cursos de educação ambiental para os envolvidos. Desta forma, o Pare pretende desenvolver trabalhos de conscientização para crianças, jovens, trabalhadores, empresários, fazendeiros e órgãos políticos e assim começar a combater o tráfico de animais silvestres e o desmatamento. Outro objetivo é montar um centro de pesquisas, no qual possam promover os cursos, palestras e formar os professores das escolas.

— Nos baseamos no trabalho de conscientização desenvolvido nas escolas de Joinville e pretendemos fazer trabalho semelhante lá - ressalta o biólogo.

Outra intenção dos integrantes do projeto é criar um refúgio biológico onde os animais recuperados ou apreendidos serão tratados e devolvidos à floresta. Também visam a desenvolver programas de manejo florestal com viveiro de mudas nativas e implantar o ecoturismo após promoverem trabalhos com aldeias indígenas, sem-terra e camponeses.

Bicho-preguiça é o símbolo do programa
O bicho-preguiça, abraçado em árvores, é o símbolo do Programa Ambiental de Recuperação e Educação (Pare). Segundo o biólogo Hélio Costa de Almeida, a preguiça foi escolhida porque, sem árvores, a espécie não sobrevive, já que não anda no chão, dependendo da copa das árvores. Assim, o projeto quer mostrar a fragilidade da floresta amazônica e da espécie.

— Ela segurando a floresta é a imagem ideal para definir o nosso trabalho e demonstrar a fragilidade diante do avanço do homem - completa.

A única defesa das preguiças contra os predadores é camuflar-se entre as folhas das árvores. Sua estrutura anatômica, a fisiologia e o comportamento mostram que sua postura natural é invertida em relação aos outros animais.

— Logo, elas não estão conseguindo se adaptar às novas condições ambientais impostas pela mão do homem - alerta o biólogo.

Segundo Almeida, o principal predador da espécie são os homens, que as caça e as comercializa em feiras livres e nas margens das rodovias. Ele lembra que a ação humana sobre estes animais, facilitada pela acelerada destruição das matas, faz com que as preguiças se locomovam desajeitadamente pela superfície do solo em busca de alimento e abrigo, tornando-as presas fáceis.

Negócio movimenta US$ 10 bi
O Brasil é responsável por cerca de 10% do tráfico de animais no mundo, que movimenta cerca de US$ 10 bilhões anuais, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A estimativa é de que 30% dos animais silvestres são traficados no Brasil.

— E para transportá-los sem chamar a atenção, os animais são dopados e colocados em locais inadequados. Estima-se que para cada um traficado, três morrem - destaca o biólogo Hélio de Almeida.

O integrante do projeto lembra que existem atividades capazes de preservar a mata e gerar renda, suplantando a extração predatória e o tráfico de animais. Cita como exemplo a implantação da pesca esportiva, safáris fotográficos, turismo de aventura nos rios e trilhas na mata.

O Pare usa como exemplo dados divulgados no suplemento Floresta Amazônica, da revista Veja de novembro de 2004, em que turistas estrangeiros deixaram no Brasil, naquele ano, US$ 4,3 bilhões, mas que apenas 3% do total foram gastos com o turismo ecológico no Pantanal, Amazônia e parques nacionais.

Turismo é alternativa não-predatória
Dados da Embratur mostram que a pesca esportiva no País cresce 30% ao ano, sendo que atualmente 7 milhões destes pescadores direcionam-se ao Pantanal, o que mostra que esta atividade quase não é explorada na região amazônica.

— Assim, é possível substituir o corte da madeira nobre que rende no mundo apenas US$ 10 bilhões por ano por outra atividade não-predatória e mais lucrativa - enfatiza o biólogo. Segundo ele, é possível transformar o caçador em fiscal da natureza, mostrando que vai ganhar mais dinheiro com os animais vivos do que com o tráfico.

— E para isso vamos implantar meios, com manejos sustentáveis, como a criação de um herbário na floresta e formação de profissionais para o ecoturismo, para mostrar e ensinar como podem ter outra fonte de renda - afirma Almeida. (A Notícia, 26/09)

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