Amazônia sofre com seca
2005-09-26
A estiagem reduziu em mais de 30% a profundidade média mensal do rio Negro no Porto de
Manaus (AM). Na sexta-feira (23/09), o nível das águas era de 17,59 metros, pouco
acima do patamar registrado em 1962. Setembro é o mês histórico de seca na região, mas
a Amazônia também sofre efeitos das disfunções climáticas. Durante a cheia, o rio
Negro chega a 36 metros de profundidade em trechos mais afastados da área portuária.
Em parte do rio Madeira, a navegação está sendo feita em 1,67 metro. O Sistema de
Proteção da Amazônia prevê que somente no fim de outubro haverá chuvas em volume
suficiente para acabar com a seca.
A recomendação é que embarcações de cargas e passageiros operem com apenas 40% a 50%
de sua capacidade de peso e não saiam à noite para evitar encalhes. Vários portos
estão fechados há dois meses. A região é abastecida por balsas menores ou por via
aérea. (CP 25/09)
Estiagem diminui nível de rios e isola cidades na região amazônica
A falta prolongada de chuvas nas calhas dos rios Solimões, no Amazonas, e Madeira, em Rondônia, está acelerando a descida das águas dos afluentes dos rios e deixando cidades da região amazônica praticamente isoladas.
Segundo a CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), do Ministério de Minas e Energia, desde o mês de junho as chuvas vem diminuindo na região.
— Em agosto choveu 50% a menos do que a média histórica, que é de 57,9 milímetros - afirmou o engenheiro hidrólogo Daniel Oliveira.
De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a estação da seca na região durará até novembro.
Nesta quinta-feira, o instituto lançou um alerta por causa da baixa umidade relativa do ar, que ficou com uma taxa de 30% para Amazonas, Rondônia e Acre. A temperatura média nas cidades é de 37º C. Uma das conseqüências graves da estação seca são as queimadas.
Para a população ribeirinha os reflexos são a falta de água potável, ocorrências de surtos epidêmicos como o do rotavírus e a dificuldade de acesso a outras cidades.
Com menos chuva, o rio Madeira secou na margem esquerda, onde está a cidade amazonense de Manicoré (332 km ao sul de Manaus). No lugar do rio surgiu uma praia de 5.000 m2 com muitas pedras, fazendo com que as 12 embarcações que transportam passageiros permaneçam paradas no porto.
A média anual do nível do rio para navegação no Madeira é de 12,9 m, e nesta quinta o nível ficou em 1,7 m, permitindo o acesso apenas pela margem direita.
— É a maior seca dos últimos 30 anos que presencio no rio Madeira - disse o comerciante de navegação Carlos Alberto do Carmo Severino, 52, por telefone.
Também em Manicoré, aumentaram os preços dos produtos da cesta básica, que chegam em grandes carregamentos em balsas. A gasolina também encareceu.
— Estamos pagando R$ 2,73 o litro da gasolina, o quilo do [peixe] tambaqui é R$ 10. Isto é o maior escândalo social e ambiental que se tem no Brasil - disse o motorista José Ribamar Gadelha, 47.
Em Tabatinga (1.106 km a oeste de Manaus), os barcos também não conseguem mais atracar no porto. Lá o nível do rio Solimões desceu, de maio a setembro, de 13,8 m para 46 cm, segundo medição do porto da cidade.
— Se continuar assim [o clima seco sem chuvas], a situação ficará mais crítica e vamos ver o rio seco até Manaus - disse Jaime Azevedo da Silva, 50, funcionário do CPRM.
Segundo o meteorologista Flávio de Oliveira, do Inmet, o fenômeno das chuvas atinge também os rios Juruá e Purus. Ele não descarta a possibilidade de que a falta de chuvas esteja relacionada às anomalias causadas pelo aquecimento das águas do Pacífico, que provocaram ventos e furacões na América do Norte.
Uma equipe da Secretaria de Estado da Infra-Estrutura do Amazonas foi para Tabatinga. Em conjunto com a prefeitura municipal, a equipe fará a abertura de um novo porto para que as embarcações possam atracar. (Folha Online, 23/09)