Tony Blair admite ter mudado de visão sobre o aquecimento global
2005-09-26
O primeiro-ministro inglês Tony Blair admitiu que mudou seu ponto de vista sobre o combate ao aquecimento global. Sua mudança soou como ultraje a ambientalistas de ambos os lados do Atlântico, face às promessas que ele mesmo havia feito nos últimos dois anos, e, na prática, minou o acordo que ele mesmo encabeçou neste verão na Conferência de Gleneagles. Além disto, a nova postura ameaça as conversações abertas em Ottawa neste final de semana a respeito de um novo acordo sobre o combate à mudança climática.
A mudança de discurso de Blair irá inevitavelmente trazer acusações de que ele, uma vez mais, cedeu ao presidente Bush, justamente numa situação em que o presidente norte-americano está sob pressão sem precedentes para modificar sua política, com a chegada dos furacões Katrina e Rita. Na semana passada, o conselheiro científico de Blair, Sir David King, disse que o aquecimento global teria aumentado a sua severidade.
Nos últimos dois anos, Blair teve uma liderança consistente no que diz respeito ao combate ao aquecimento global, descrito por ele como –de longo prazo, mas de importância única face à comunidade global– e assinalou que –ele não pode ser encaminhado adequadamente sem ser através de acordos internacionais–. Bush repetidamente expressou aversão a esta posição.
Ao dividir espaço com a secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice neste mês, em Nova Iorque, Blair confessou: –Porvavelmente, estou mudando meu pensamento sobre isto–, acrescentando que ele esperava que –as nações mundiais pudessem negociar acordos internacionais–.
Esta postura contradiz a afirmação dada por Blair em palestra, há um ano, quando ele disse que –o problema é global em causa e escopo e só pode ser resolvido através de um amplo acordo internacional–. Da mesma forma, Blair, com esta atitude, nega o que seus ministros conclamaram ser a maior conquista no encontro de Gleneagles sobre aquecimento global. Ele, na casião, teve sucesso em obter o apoio de todos os líderes – exceto Bush – para negociar um acordo sucessor ao Protocolo de Kyoto e para combinar um encontro do G8 e dos líderes de países em desenvolvimento a fim de discutir isto.
No sábado à noite (24/9), o diretor executivo da ONG Amigos da Terra chamou a mudança de posição do primeiro-ministro de inacreditável. –Ao fahar na prática do que prega, ele agora está mudando o seu discurso para adequá-lo à prática–, disse Tony Juniper. (The Independent, 25/9)