Aqüífero Guarani: tesouro em tempos de sede
2005-09-26
Não falta tanto tempo para que a riqueza de uma civilização seja medida em litros. Há tempo vem-se divulgando que a escassez de água será, num futuro não muito distante, motivo de guerras, e sua posse será o troféu mais apreciado. No sul, num espaço compartilhado entre quatro países, está a pérola: o Aqüífero Guarani, conhecido até agora como a terceira reserva subterrânea de água doce do mundo – embora, segundo recentes estimativas, possa ser o maior curso d água sob a terra.
Estendido entre as bacias dos rios Paraná, Uruguai e Paraguai, o Aqüífero Guarani tem uma superfície aproximada de 1.194.000 quilômetros quadrados. Cerca de 70% dele estão no território brasileiro, 19% na Argentina; 6% no Paraguai e os 5% restantes no Uruguai. Até agora, desconhece-se seu alcance total, ao ponto de se ignorar qual é o extremo ocidental da reserva no Paraguai e na Argentina, onde estima-se que chega mais além da laguna de Mar Chiquita. Também são estimativas as que entendem que o Guarani possa chegar, pelo sul, até os grandes lagos das cordilheiras argentinas.
Suas dimensões são fabulosas: supera em tamanho a Espanha, a França e Portugal, juntos. Com um volume de 55 mil quilômetros cúbicos – cada quilômetros cúbico equivale a um bilhão de litros de água – e com uma exploração adequada, poderia abastecer cerca de 720 milhões de pessoas, resultando em 300 litros por habitante.
–O problema não está em que as reservas de água sejam cada vez menores, mas no fato de que sua localização está mudando– disse o especialista mexicano Gian Carlo Delgado, autor do livro Água e segurança nacional. Segundo Delgado, –por un lado há um alto índice de contaminação da água, enquanto que, por outro, está començando uma relocalização espacial da precipitações e, assim, da água doce–. Ao que parece, segundo ele, as zonas de alta biodiversidade como a que abriga o Aqüífero Guarani verão incrementar ou pelo menos conservar os índices de precipitação e, portanto, essas zonas –aparecem como estratégicas em nível local, regional e mundial– assinala Delgado. (Clarín, 25/9)