Votorantim quer determinar efeitos do sistema agrossilvipastoril na natureza
2005-09-26
A Votorantim Celulose e Papel (VCP) pretende desmitificar o paradigma de que
agricultura e eucalipto não combinam. Para isso, o cenário escolhido foi área de 1,5
hectares da fazenda Aroeira, antigo complexo Ana Paula, no município de Candiota,
próximo a Bagé, que foi dividida em quatro áreas experimentais, com campo nativo,
somente eucalipto, e outras duas com eucalipto com linha dupla e tripla, consorciadas
com sorgo, soja, pastagem e animais. Na manhã de ontem (22/09), por volta das 9h30min,
foi acionado oficialmente o sistema de monitoramento destas áreas.
O projeto é desenvolvido a partir de parceria da VCP com a Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM) e Albert-Ludwigs-Universitãt Freiburg, da Alemanha, e tem custo
estimado em 200 mil dólares. A duração do estudo é de sete anos, o tempo necessário
para a floresta atingir o ponto de corte. Apesar disso, em seis meses já devem ser
conhecidos e divulgados os primeiros resultados da pesquisa.
Com tecnologia importada da Alemanha, os equipamentos foram instalados pelo
pesquisador da Universidade de Freiburg, Peter Trüby, com experiência de 20 anos de
monitoramento na floresta Negra, na Alemanha. Participam do trabalho, profissionais
da VCP e UFSM, coordenados pelo professor do departamento de Ciências Florestais da
UFSM, Valdir Schumacher. O sistema de monitoramento emitirá relatórios, a cada quatro horas, sobre a reação do solo, ar, água, nutrientes e luminosidade em uma floresta de eucaliptos com ou sem outras culturas. Entre os objetivos do trabalho, que deve ser finalizado em 2012, está a avaliação em detalhes da complexidade da relação entre a água e a plantação de eucaliptos e demais plantas à sua volta, comportamento dos nutrientes, composição do solo e efeito da luminosidade sobre as pastagens durante o crescimento dos eucaliptos.
O sistema agrossilvipastoril é visto como uma das grandes saídas para pequenas, médias e grandes propriedades, segundo o gerente operacional da VCP no Extremo Sul, o engenheiro Florestal João Afiune Sobrinho. A tecnologia é desenvolvida há 15 anos no município de Vazante, em Minas Gerais, com o objetivo de produzir madeira, grãos e carne num mesmo local. O que muda é o objetivo do eucalipto produzido no estado mineiro, que se destina à madeira e carvão. Os plantios na Metade Sul se destinam à produção de papel e celulose.
Antes da implantação do monitoramento da floresta na fazenda Aroeira, a unidade da VCP no extremo Sul testa a integração da silvicultura com a agricultura e a pecuária. Os primeiros experimentos no estado começaram a ser implantados em outubro do ano passado e totalizam área de mil hectares. No primeiro ano, o eucalipto foi plantado consorciado com sorgo e para o segundo ano está previsto o cultivo de soja. A partir do terceiro ano, será formada pastagem para convívio com o gado de cria nas florestas até o corte, ou seja, por mais quatro anos. A unidade gaúcha também plantou o eucalipto consorciado com melancia, abóbora e melão com bons resultados. Deve ser testado também o consórcio com trigo, aveia e girassol.
A técnica consiste no plantio de árvores em espaçamentos mais abertos, suficientes
para a circulação de máquinas à preparação do solo, plantio e colheita dos grãos. Por
isso, são plantadas fileiras de árvores com seis ou 10 metros de distância e dois
metros entre si. O alinhamento das árvores é fundamental também para favorecer a
insolação durante o ano (sentido Leste-Oeste) e garantir bom desenvolvimento da
agricultura e da pastagem, mesmo próximos às árvores. O material genético (Eucaliptus)
a ser utilizado também é importante. Vários clones e espécies melhoradas geneticamente
são testados para a Região Sul. (Diário Popular, 23/09)