Esgoto sacrifica litoral do Rio de Janeiro
2005-09-22
Há 22 anos, quando ainda era estudante de biologia marinha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Elizabeth Bruno Lobo observou algo curioso. Nas areias da Praia de Copacabana, onde mora,
havia dezenas de bastonetes plásticos, cuja origem a intrigava. A conclusão: como outros pequenos detritos plásticos lançados em vasos sanitários, os cotonetes chegavam à praia depois de passar pelas redes de esgoto e, como não são matéria orgânica, vinham parar na areia.
Decidida a desenvolver o tema em um trabalho de faculdade, a bióloga percorreu, durante sete dias, sete praias da orla carioca, onde coletou aproximadamente 8 mil cotonetes. Ao chegar à sala de aula com a sacola carregada de bastões, o professor abortou a idéia por sua complexidade - este assunto nunca fora desenvolvido antes. A negativa acabou transformando o tema numa bandeira de vida.
Em 1983, Elizabeth enviou uma carta ao fabricante sugerindo que fosse colocado um aviso na embalagem para que as pessoas jogassem os cotonetes no lixo, não no vaso. A empresa respondeu elogiando a
idéia e prometendo fazer algo a respeito. Vinte e dois anos depois, nenhuma mudança.
Este ano, a bióloga conseguiu um apoio maior para sua luta. O Instituto Aqualung decidiu, no Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias, dar especial atenção a este tipo de lixo. Será feito, pela primeira vez no Brasil, o levantamento específico para este tipo de material.
— É impressionante também a quantidade de camisinhas e absorventes higiênicos encontrados nas praias. Isso sem contar o que fica retido no fundo do oceano - afirma Elizabeth.
A Baía de Guanabara também agoniza com o que chega através dos canos domésticos. Praticamente 70% do esgoto do município do Rio de Janeiro são despejados in natura na baía.
— Quando acontece um derramamento de óleo como o que houve no começo deste mês nas praias de Niterói, a população se mobiliza, multas são aplicadas, todo mundo percebe enfim que a Baía de Guanabara existe.
— Mas o grande vilão da baía é esse lixo que chega diariamente às águas. Por ser invisível, silencioso, todos parecem ignorá-lo - desabafa o biólogo Pedro Belga, presidente da ONG Guardiões do Mar, que há nove anos faz trabalhos de preservação ambiental nas águas da baía. (Jornal do Brasil, 21/09)