Ambientalistas denunciam: Feira do Verde (ES) virou propaganda enganosa
2005-09-22
A Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), a mais antiga ONG do Estado, está fora da Feira do Verde deste ano. —A Feira foi desvirtuada. Foi criada como espaço para discutir os impactos da poluição. Hoje é espaço para propaganda enganosa das poluidoras. A feira é um mercado persa ambiental-, afirmou um dos diretores da ONG. Por terem desvirtuado a Feira, que já está na sua XVI versão, a Acapema não vai participar do evento. — Não vamos pactuar com os interesses das poluidoras. As poluidoras bancam o evento, fazem e mostram o que querem.
Apesar do protesto da Acapema, o Fórum das ONGs Ambientais está participando do evento, onde coordena o espaço das entidades ambientalistas. As poluidoras apostam tanto na sua capacidade de mistificar a realidade que publicam propaganda chamando a comunidade para visitar seus estandes. O patrocínio é daquelas que mais degradam o meio ambiente: as companhias Vale do Rio Doce (CVRD) e Siderúrgica de Tubarão (CST) e a Aracruz Celulose. Entre as colaboradoras, a Samarco Mineração.
A Feira do Verde, o evento ambiental de maior público no Espírito Santo, começou nesta terça-feira (20), em Vitória, e vai até o dia 25 próximo. Nos estandes a realidade da degradação ambiental será sofismada: serão mostradas belas imagens e informações irreais sobre a sustentabilidade da produção destas empresas. Estas conseguem enganar a muitos neste espaço.
Nos estandes da Feira do Verde a realidade da degradação ambiental será sofismada: serão mostradas belas imagens e informações irreais sobre a sustentabilidade da produção destas empresas. Estas conseguem enganar a muitos neste espaço.
Mas, na realidade, a poluição custa caro aos capixabas: cada morador da Grande Vitória gasta R$ 100,00, por ano, para tratar as doenças causadas pela poluição. Com base no último censo, foi apontado que o custo médio da poluição é R$ 280 milhões por ano na região.
Ao longo das operações de suas usinas, as Companhias Vale do Rio Doce (CVRD), Siderúrgica de Tubarão (CST -Arcelor) e Belgo - Arcelor provocaram doenças que exigiram da população e dos governos o investimento de R$ 3,7 a R$ 4,4 bilhões para tratamento de saúde.
A CVRD, CST - Arcelor e Belgo - Arcelor provocam 50% da poluição do ar na Grande Vitória, segundo dados apurados pelo Instituto de Física Aplicada da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A CVRD responde por 20-25% dos poluentes do ar; a CST - Arcelor de 15 a 20%, e a Belgo -Arcelor de 5-8% das 264 toneladas/dia de poluentes lançados no ar.
Por ano, a CVRD exige que o governo e a sociedade gastem R$ 56 a 70 milhões, com valor médio anual de R$ 65 milhões, para tratamento de saúde. Já a CST - Arcelor provoca um gasto de R$ 42 a 56 milhões por ano, valor médio de R$ 50 milhões, para tratamento das doenças que provoca. E, a Belgo - Arcelor causa doenças sobre os moradores que exigem o investimento médio de R$ 18 milhões (varia de R$ 14 a 22 milhões anuais).
Não estão computados nestes cálculos as lesões permanentes no trabalhador, ocorrências com agravamentos drásticos na população e doenças provocadas pela poluição hídrica, sendo estes cálculos uma outra questão, que foge ao objetivo da presente análise, mas que se computados, aumentarão consideravelmente estes valores.
As 264 toneladas/dia de poluentes lançadas no ar totalizam 96.360 toneladas/ano. Ao todo, são 59 os tipos de gases lançados, sendo 28 altamente nocivos, que provocam inclusive alguns tipos de câncer, e doenças alérgicas e respiratórias, entre outras.
Há ainda materiais particulados. Entre os poluentes, micropartículas de ferro, as PM2, que vão contaminar os pulmões, e derivados do enxofre que, em contato com a água, produzem ácido sulfúrico, que pode lesar a pele e também ser inalado. Estes poluentes afetam a saúde de mais da metade da população da região.
Apesar dos efeitos devastadores da poluição do ar e do mar na Grande Vitória sobre a saúde e o meio ambiente, mais poluição será produzida. Hoje, a CVRD produz 25 milhões de toneladas de pelotas por ano no seu complexo de Tubarão, onde tem sete usinas. A empresa anuncia que vai começar sua oitava usina este ano, que terá capacidade de produzir 7 milhões de toneladas/ano de pelotas de ferro e já começou o processo de licenciamento ambiental junto ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).
A terceira usina da CST - Arcelor aumentará a produção da empresa de 5 milhões de toneladas anuais, para 7,5 milhões de toneladas por ano de placas e bobinas de aço (a nova planta permitirá que a produção chegue a 8,4 milhões de toneladas por ano).
A outra poluidora do ar, a Belgo - Arcelor também anunciou que estão em operação novos equipamentos que aumentarão a produção para 600 mil toneladas anuais, praticamente dobrando a produção da usina.
No interior do estado a devastação é promovida principalmente pela Aracruz Celulose. A empresa assume que tem plantios de eucalipto em 252 mil hectares, e a propriedade de outros 133 mil hectares de terras - a empresa é dona de 385 mil hectares no Brasil - nos estados do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. E ainda faz plantios através do que chama Programa Produtor Florestal: assume mandar em plantios em 71 mil hectares.
A empresa tomou terras de quilombolas, índios e pequenos agricultores. Os plantios da monocultura do eucalipto seca a terra, e a aplicação de venenos agrícolas mata gente, animais e vegetais. A Aracruz Celulose continua comprando terras boas para a agricultura, destinando-as ao plantio de eucalipto.
Já a Samarco Mineração S/A. conseguiu licença ambiental ilegal para a construção da 3ª usina de pelotização. A empresa polui o ar, o mar e a lagoa Mãe-Bá na região sul do Estado.
A Feira do Verde é realizada pela prefeitura de Vitória. O público esperado para este ano é de 100 mil pessoas (70 mil no ano passado). São 68 estandes montados, um aumento de 30% em relação ao ano anterior. (Século Diário, 21/9)