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2005-09-22
O Brasil, maior produtor e exportador de açúcar e álcool, pode não ter condições de atender à crescente demanda por esses produtos nos próximos anos, mesmo considerando os projetos de expansão hoje existentes, afirmou ontem Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo).

A Unica projeta uma demanda total de 560 milhões de toneladas de cana em 2010/11. O mercado interno de álcool chegaria a pelo menos 22,1 bilhões de litros, e as exportações, a 5,2 bilhões. No açúcar, a demanda atingiria 11 milhões de toneladas, e as vendas externas, 24 milhões de toneladas.

— Vai ser difícil chegar a isso porque não vai ter cana suficiente - afirmou Pádua, durante apresentação na 5ª Conferência Internacional sobre Açúcar e Álcool, em São Paulo. Neste ano, o Brasil está produzindo, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), 397,1 milhões de toneladas de cana para uso industrial. A produção de açúcar está estimada em 27,2 milhões de toneladas, e a de álcool em 17 bilhões de litros.

Pádua considerou, contudo, que a potencial demanda pode induzir a novos projetos. — Tudo vai depender dos preços.

Há 41 projetos de novas usinas em execução no centro-sul, que agregariam à atual produção da região um total de 70 milhões de toneladas de cana. Além disso, as unidades hoje instaladas têm projetos de expansão, acrescentando mais 35 milhões de toneladas.

Mesmo assim, considerando uma manutenção no volume produzido do Nordeste (55 milhões de toneladas) e a produção atual no centro-sul, a Unica prevê que o país teria condições de colher em 2010 cerca de 510 milhões de toneladas de cana, abaixo portanto da demanda potencial.

No caso do álcool, a perspectiva de crescimento no consumo se baseia em fatores como a expansão do mercado de veículos flexíveis no Brasil, manutenção do preço do petróleo num nível elevado e adoção do combustível em outros países.

Atualmente, o centro-sul opera perto da capacidade instalada de moagem de cana, de 180 mil toneladas por dia. Mas esse cenário de demanda aquecida tende a manter os preços sustentados nos próximos anos, garantindo boa rentabilidade às usinas e levando à execução de novos investimentos, admite Pádua.

— Tudo indica que terão de ser complementados mais projetos - disse Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, ressaltando que isso deve ocorrer levando em conta disponibilidade de área, de recursos e perspectiva de preços.

— A própria competitividade do etanol brasileiro fez com que a dimensão do mercado mudasse. Isso vai criar uma demanda latente que vai manter os preços remuneradores - disse Nastari. Segundo a Unica, uma usina para 2 milhões de toneladas de cana/safra demanda investimento de US$ 140 milhões, sem considerar a terra.

O consultor diz ser possível também a entrada de novos grupos estrangeiros no setor brasileiro tendo em vista a rentabilidade da atividade no Brasil e a ausência de cotas e de barreiras de licenciamento ou tecnológicas.

O Brasil tem hoje os menores custos de produção de etanol -cerca de US$ 26 por barril.

— Com petróleo acima de US$ 30 o barril, a competitividade do álcool brasileiro está confirmada - disse Nastari. As exportações de álcool do Brasil devem alcançar o recorde de 2,8 bilhões de litros em 2006, previu ontem Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro.

Neste ano, o país deve embarcar 2,6 bilhões de litros, mesmo volume de 2004. Os embarques não cresceram mais neste ano porque a disponibilidade de cana é limitada, a demanda interna por álcool está aquecida e os preços, remuneradores. (Folha de S.Paulo, 21/09)

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