Seca no Madeira é ameaça de apagão
2005-09-22
A pior seca já registrada no Rio Madeira nos últimos 37 anos, um dos principais afluentes da margem direita do Rio Amazonas, põe em risco o abastecimento das termoelétricas movidas a óleo combustível instaladas em Rondônia e Acre, na Região Norte. A Eletronorte, em acordo com a Petrobrás, deflagrou a partir da semana passada um plano emergencial para o transporte de combustível da Refinaria de Manaus até Porto Velho (RO). Não é o único e nem o principal. O plano conta com uma operação de emergência que incluiu a transferência de combustível da Refinaria de Paulínia (Replan), no interior de São Paulo, como principal fornecedora de óleo para geração térmica, num percurso de 3 mil quilômetros.
Até agora, saíram de Paulínia em direção a Porto Velho 14 milhões de litros de óleo diesel, tanto para o abastecimento das térmicas quanto o abastecimento do transporte de carga e de passageiros. Por dia são necessários a chegada de pelo menos 1,3 milhão de litros de combustível.
— Esse volume viria de Manaus não fosse a dificuldade de navegação no Rio Madeira - explica Fernando Fonseca, gerente regional de Rondônia da Eletronorte. O plano de guerra para assegurar o funcionamento de uma capacidade instalada de 380 MW (necessária para suprir de energia elétrica Rondônia e Acre) deu resultado. A Eletronorte afasta, por ora, qualquer risco de desabastecimento dos dois estados.
A rota Manaus-Porto Velho (na subida do Madeira) ainda funciona, mas precariamente. A Marinha já proibiu, por exemplo, o tráfego noturno em parte da hidrovia.
Segundo Fonseca, a BR Distribuidora consegue trazer apenas metade da capacidade de óleo diesel em barcaças, 1,5 milhão de litros de óleo ante os 3 milhões que subiam o rio por barcaça. Uma alternativa tem sido o transbordo em Manicoré, no meio do caminho, a 600 quilômetros de Manaus.
A BR Distribuidora faz o transbordo para embarcações menores capazes de passar em trechos rasos do Rio Madeira com menor risco de encalhe. O problema é que a operação também não está garantida.
— Se o volume de água do Madeira cair ainda mais, acho que ficará impossível o transporte pelo rio - avisa Elpídio Gomes Filho, diretor-superintendente da Administração das Hidrovias da Amazônia Ocidental (Ahimoc). De acordo com ele, há 21 trechos críticos ao longo do rio, com profundidades de 1,50 a 1,80 metro de profundidade no canal de navegação.
— Acho que o custo desta operação entre Paulínia e Porto Velho será de cinco ou seis vezes maior do o transporte por balsas entre Manaus e Porto Velho - explica.
De acordo com a Eletronorte o custo adicional do plano de emergência será todo custeado pela Petrobrás.
— A Eletronorte não terá custo adicional algum. A Petrobrás é quem deve garantir o abastecimento - disse Fonseca. O plano em curso é o único capaz de assegurar o fornecimento na região. O Sistema Elétrico Rondônia/Acre é isolado, não tem ligação com o Sistema Interligado Nacional (SIN). Isso deverá ocorrer apenas em 2007, quando a Eletronorte avalia que terá condições de concluir um linha de 300 quilômetros que interligará os municípios de Vilhena (Sul de Rondônia) a Jauru (MT).
— Se existisse essa ligação poderíamos receber energia do Sudeste ou Nordeste, mas ela somente estará pronta em 2007 - diz Fonseca.
Alerta
Segundo Inácio Azevedo, diretor técnico da Companhia Elétrica de Rondônia (Ceron), vigora neste momento o estado de alerta, mas não há nenhum plano de racionamento em marcha. A situação do rio, que em alguns trechos - segundo o administrador da hidrovia tem profundidade máxima de 1 metro e 50 centímetros -, não deve permanecer no atual nível. O período de chuvas começa a partir de meados de outubro pode elevar o nível e normalizar a situação. É a crença do grupo gestor que acaba de ser criado para enfrentar a situação.
A principal contribuição para formação do Rio Madeira vem do degelo da Cordilheira dos Andes. Alguns canais que atravessam a Bolívia levam água até o território brasileiro. A partir de Porto Velho o rio torna-se navegável e ingressa na chamada Planície Amazônica.
Segundo Gomes Filho, administrador da hidrovia, a contribuição da água que desce da Cordilheira é fundamental para empurrar a água em direção ao Rio Amazonas. O declive na planície é mínimo. Para se ter uma idéia, o desnível de Porto Velho até a foz no Rio Amazonas (1.056 quilômetros) é de só 19 metros, queda de menos de 2 centímetros por quilômetro. (O Estado de S. Paulo, 21/09)