Baía de Guanabara: A tragédia carioca
2005-09-21
A Baía de Guanabara, que testemunhou toda a história do Rio de Janeiro, mas sempre foi tratada como coadjuvante – recebendo o papel de cloaca da cidade – tem, finalmente, a homenagem que merece: uma biografia.
A autora do livro – Baía de Guanabara: Biografia de uma Paisagem-, de 270 páginas com textos em português e inglês, é a arquiteta Eliane Canedo de Freitas, especializada em ecologia e planejamento ambiental e estudiosa do tema há 20 anos. Os primeiros séculos de vida da baía são ilustrados com iconografias de época. Mas as últimas décadas são reveladas em cores pelo fotojornalista Custódio Coimbra, que, há 30 anos, registra a cidade e seus personagens.
O livro resume o que todo governador e morador do Estado do Rio de Janeiro precisam saber, se ainda não aprenderam: a Baía de Guanabara merece respeito. Ela começou a ser delineada há 65 milhões de anos e, quando os portugueses e franceses a conheceram, julgaram ter descoberto o paraíso.
Mas a ganância os levou a explorá-la, e os costumes da civilização os fizeram ter medo da floresta, de seus barulhos e das tormentas tropicais. A solução foi derrubar as matas e domar a natureza na base da construção civil. As suas margens deram lugar a uma metrópole que, no decorrer do tempo, aterrou um terço do corpo dágua e o transformou em depósito de lixo e esgoto. Ainda assim, a Baía sobrevive e não cansa de dar sinais de resistência e beleza. Como escreveu Eliane na introdução do livro, – apesar de densamente urbanizado, o Rio de Janeiro guarda, ainda, como principal atrativo, a força de sua natureza-.
O passo a passo das mudanças sofridas pela Baía de Guanabara, que hoje abriga 14 municípios, é descrito em nove capítulos, sendo que os últimos quatro são dedicados exclusivamente às características de sua geografia e problemas. As soluções, no entanto, ficaram de fora. – Mesmo tendo dinheiro disponível e soluções técnicas ao alcance, nada é feito para mudar o cenário de degradação. Sofremos com a ineficiência da administração pública-, diz Eliane, que trabalhou na Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) durante 20 anos e participou do processo de negociação dos acordos de despoluição da Baía de Guanabara. – No livro, indico os aspectos a serem resolvidos. As soluções possíveis, essas todo mundo já conhecem-.
A proposta do livro é atiçar a curiosidade do leitor e fazê-lo observar com mais atenção o que representa a Baía de Guanabara, despertando para a riqueza desse ecossistema que ainda guarda beleza e tem uma capacidade de recuperação espantosa. Nas palavras da autora: – É lembrar que, ao longo de sua história de vida, a baía foi tentando adaptar-se aos fatos e a cada nova condição que lhe era imposta – esforça-se para sobreviver-. A história está toda no livro, e o esforço testemunhado nas fotos de Custódio Coimbra. (OEco, 18/09)