Unesp cria praguicida alternativo com açúcar e óleo de soja
2005-09-19
Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolveram um novo praguicida a partir da mistura de açúcar e óleo de soja. Durante os primeiros testes em laboratório, o produto mostrou eficiência no combate a algumas pragas agrícolas. Além disso, a substância tem baixo custo de produção e pequeno impacto ambiental.
O pesticida foi produzido a partir de reações químicas entre a sacarose da cana-de-açúcar, o óleo de soja e um catalisador.
— O catalisador é um produto químico que simplesmente acelera a mistura dos dois elementos, gerando um terceiro produto conhecido como éster de sacarose - explicou Reinaldo José Fazzio Feres, um dos coordenadores da pesquisa, à Agência FAPESP.
Após sua obtenção, o produto é dissolvido em água em diferentes proporções, dependendo da praga que se deseja atingir.
— O segredo está em testar diferentes concentrações do éster de sacarose antes de utilizá-lo. É preciso definir a dosagem para cada tipo de praga - conta Feres.
Resultados promissores foram verificados em laboratório no combate aos ácaros Calacarus heveae, que afeta seringueiras, e Tetranychus ogmophallus, praga do amendoim e de plantas ornamentais. Nos dois casos, o produto apresentou uma eficácia de até 93%. Nos testes com insetos, a substância eliminou entre 90% e 100% das populações da lagarta-do-cartucho-do-milho e da mosca-branca, que ataca mais de 700 espécies de plantas.
— Aparentemente, o produto é bastante eficiente, mas apenas sucessivos testes em campo poderão comprovar esses resultados, por conta da existência de uma grande quantidade de abrigos no ambiente natural, como galhos e folhas - disse Feres. — Uma primeira aplicação em campo do produto já foi feita em um pomar comercial de citros com resultados bastante animadores.
O pesquisador conta que, no campo, após a aplicação do praguicida numa proporção de 5 gramas de éster por litro de água, o índice de infestação do ácaro da leprose dos citros (Brevipalpus phoenicis) caiu de 7,5% para 2,5%.
— O mais interessante foi que, com uma concentração de 10 gramas de éster por litro, a infestação de 7,5% foi reduzida a zero - comemora Feres.
Segundo ele, além de os números comprovarem a eficácia do novo praguicida, outra grande vantagem é seu baixo custo de produção. Com cerca de R$ 5 é possível adquirir açúcar e óleo de soja em quantidade suficiente para produzir 1 quilo do produto.
— Ao ser diluído em água, esse volume pode render até 200 litros - explica.
Além disso, por ser formulado basicamente por ésteres de sacarose, substâncias naturais derivadas do açúcar e utilizadas, por exemplo, na produção de alimentos sem gordura, o produto não oferece risco para a saúde humana e não afeta o desenvolvimento da planta.
Os trabalhos foram realizados por uma equipe coordenada por Feres e pelo professor Mauricio Boscolo, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), em São José do Rio Preto, e Odair Aparecido Fernandes, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), em Jaboticabal. (Agência FAPESP, 17/09)