Estados Unidos recolhe material nuclear da Argentina
2005-09-19
Os Estados Unidos levaram elementos combustíveis gastos do reator nuclear de Bariloche, na Argentina, para evitar que caiam em mãos de terroristas que possam com eles construir uma bomba atômica suja. Sob forma reservada, abaixo de fortes medidas de segurança a cargo das Forças Armada, a Secretaria de Energia dos Estados Unidos já recolheu 207 elementos gastos de urânio enriquecido a 90% do reator de investigação nuclear RA3 de Ezeiza. Nos próximos meses, em data que se mantém em reserva, os norte-americanos farão o mesmo com 42 elementos do reator RA6 de Bariloche.
O processo havia começado em 2000 com o reator de Ezeiza, mas acelerou-se como conseqüência dos atentados contra as Torres Gêmeas do World Trade Center, em 2001. Os terroristas podem fazer com estes materiais nucleares bombas sujas ou entregá-los a países que estão na lista negra dos Estados Unidos, como Coréia do Norte, que têm a tecnologia para aumentar o enriquecimento do urânio a 99% e construir uma bomba atômica clássica.
Estas medidas estão em sintonia com os compromissos assumidos na última quarta-feira (14/9) pelo presidente Néstor Kirchner ao falar diante do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Kirchner disse, na ocasião, que – a proliferação de armas de destruição massiva e o perigo de seu desvio a grupos terroristas constitui hoje, mais do que nunca, uma clara ameaça à paz e à segurança internacional.
O presidente argentino destacou que seu país é o único da América Latina que firmou os cinco regimes de não proliferação que proíbem a construção de bombas atômicas e mísseis e atribui uma enorme importância à Resolução 1540 do Conselho de Segurança da ONU. Esta resolução compromete os países a evitar que as bombas atômicas ou seus componentes caiam em mãos de terroristas.
Em troca de levar o material nuclear, os Estados Unidos pagam a construção de novos elementos, mas com um enriquecimento de urânio a 20%, e os trabalhos de adaptação do núcleo dos reatores, explicou o chefe do programa do Ciclo de Combustível Nuclear à Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA), Horacio Taboada.
De esta forma, o governo não somente aceita enviar elementos combustíveis gastos aos Estados Unidos como também se compromete a fazer um registro das bombas de cobalto, informou o titular da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEA), José Abriata, recentemente em Viena. Na Argentina existem 1,7 mil centros médicos que têm elementos radioativos como as bombas de cobalto, que também podem ser usadas como bombas sujas.
O governo argentino também aumentou, através das Forças Armadas, as medidas de segurança sobre todos os centros atômicos do país, e comprometeu-se a evitar que haja fontes radioativas órfãs – por exemplo, que se esqueça uma bomba de cobalto em um hospital fechado. Além disto, o governo está colaborando com países da América Central para que tomem medidas de proteção parecidas em todas as suas instalações nucleares, informou o diretor de Assuntos Nucleares da Chancelaria, Renato Sersale.
O Departamento de Energia dos Estados Unidos levou prontamente 207 elementos combustíveis gastos do RA3 de Ezeiza em 20 contêineres especiais que, em uma operação reservada, foram carregados naquele local e trasladados até um porto cujo nome não foi divulgado por questões de segurança. De lá, o material foi embarcado para o porto de Charleston, nos Estados Unidos, para seu armazenamento definitivo no centro atômico conhecido como Savannah River.
A troca dos elementos gastos, a adaptação do núcleo – feita por técnicos da CNEA – e o transporte implicou um custo de 8 milhões de dólares pagos pelos Estados Unidos como parte do Programa de Aceitação de Elementos Combustíveis Gastos de Reatores de Investigação Estrangeiros, ao qual a Argentina já havia aderido. Em 2003, os Estados Unidos lançaram também o programa contra a ameaça global conhecido como GTRI, a fim de apurar a retirada de todos os elementos combustíveis desse tipo.
Agora, o reator RA3 de Ezeiza tem elementos combustíveis novos com Urânio enriquecido a 20% e com uma potência de 10 megawatts, e –continua sendo o principal produtos de radioisótopos para uso medicinal–, explicou o chefe de Relações Bilaterais da CNEA, Dario Jinchuk. Esses radioisótopos permitem realizar, em média, 1,5 milhão de tratamentos médicos por ano. Em troca, o RA6, de 0,5 megawatts, é –para o treinamento de novos físicos e engenheiros nucleares– do Instituto Balseiro no Centro Atômico Bariloche.
Nos próximos meses, será firmado contrato com o Departamento de Energia dos Estados Unidos para levarem-se também elementos gastos do RA6. Em troca desses elementos, os Estados Unidos entregarão 26 quilos de urânio enriquecido a 20% para construir os novos elementos e pagará a adaptação do reator, bem como o seu transporte. Toda a operação tem um custo estimado em US$ 5 milhões. (Fonte: Clarín, 18/9)