Brasil pode entrar em circuito mundial de furacões
2005-09-19
O Brasil pode entrar no circuito mundial dos furacões,
também devido ao aquecimento global. A sugestão é de
uma dupla de pesquisadores da Universidade de
Melbourne, na Austrália, que analisou o fenômeno
Catarina, primeiro ciclone tropical registrado no
país, em 2004.
O climatologista brasileiro Alexandre Pezza e seu
colega australiano Ian Simmonds publicaram na edição
do mês passado da revista Geophysical Research
Letters (www.agu.org/journals/gl) um estudo
detalhando como o Catarina se transformou de ciclone
extratropical --tipo de tempestade comum no Brasil--
em um ciclone tropical ou furacão.
O estudo afirma que a conversão do Catarina numa
tempestade malvada não ocorreu devido a temperaturas
especialmente altas no mar de São Paulo, onde o
fenômeno se originou antes de migrar para Santa
Catarina.
Segundo os pesquisadores, o que ocorreu foi uma
combinação atípica de ventos fracos nas camadas mais
altas da atmosfera e do chamado bloqueio atmosférico,
que atrapalha a circulação normal dos ventos e, no
caso de Santa Catarina, impediu a frente fria que, em
situações normais, deteria a transição para ciclone
tropical.
Pezza diz que a dupla não encontrou nenhuma relação
direta do Catarina com o aquecimento global. No
entanto, afirma que o efeito estufa pode alterar o
padrão geral da circulação atmosférica no Hemisfério
Sul, com o potencial de produzir no futuro condições
similares às responsáveis pelo Catarina. –O
aquecimento global está relacionado a propriedades
mais complexas do que simplesmente um aumento da
temperatura do ar ou da água–, disse o pesquisador.
Em bom português, não seria preciso um aumento efetivo
na temperatura da água ou um aumento na área de
formação de furacões --limitada aos mares equatoriais
e tropicais-- para que mais Catarinas acontecessem.
O climatologista José Marengo, do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) concorda, mas pede
calma.–O trabalho de Pezza e Simmonds é diagnóstico
--[trata do] tempo presente, e eles projetam para o
futuro. Ou seja, ainda há muita incerteza sobre o assunto–, conclui (EFE, 16/9)