Plantas nucleares antigas podem afetar pacto sobre emissões nos Estados Unidos
2005-09-15
Um acordo proposto entre nove Estados do norte dos Estados Unidos para conter as emissões de gases de efeito estufa de plantas energéticas está causando uma discussão sobre se as licenças de funcionamento de duas plantas de energia nuclear antigas em Nova Jersey e Vermont devem ser prorrogadas. Grupos comunitários em ambos os Estados opõem-se a que as licenças sejam estendidas além dos 40 anos regulamentares que essas plantas têm para funcionar, mas os os ambientalistas estão, em geral, sustentando o acordo proposto entre os governos visando à redução dos gases estufa, os quais contribuem para o aumento da mudança climática global.
A desativação dos dois reatores poderia significar aumento substancial e imediato nas emissões, pois aumentaria a dependência das plantas de energia baseadas em combustíveis fósseis, provavelmente triplicando as emissões em Vermont e duplicando-as em Nova Jersey. –Penso que a cmunidade ambientalista está confusa agora em termos de onde quer ir –, disse Richard A. Valentinetti, diretor do Programa de Qualidade do Ar de Vermont, que está profundamente envolvido no delineamento de um acordo entre nove Estados. –Obviamente, há alguma polarização real–, acrescenta.
Alguns ambientalistas afirmam que as metas podem ser atingidas sem as duas plantas nucleares existentes, a Vermont Yankee e a Oyster Creek, e sem outras plantas nucleares cujas licenças vão expirar nos próximos anos. – Apenas devemos afastar o mito de que precisamos usar mais energia–, afrma Rob Sargent, analista sênior de política para os Grupos de Interesse em Pesquisa do Estado, uma organização não-governamental de defesa do consumidor .Os grupos de Nova Jersey afiliados a esta ONG estão liderando uma campanha contra a Oyster Creek, a maior planta de energia nuclear comercial do país. Sargent afirma que o aumento dos preços da eletricidade poderiam tornar práticas muitas tecnologias para a economia energética, mas o reconhecimento de que isto apenas economizaria dinheiro não seria suficiente para reduzir o consumo de energia à quantidade requerida ou especificada.
Engenheiros e ambientalistas de alguma área técnica têm há muito tempo previsto que os planejadores públicos terão que eventualmente escolher entre o aumento das emissões dos gases estufa e dependência ainda mais pesada de energia nuclear. O debate tem sido principalmente hipotético, pois ninguém nos Estados Unidos ordenou a criação de uma nova planta nuclear desde os anos 70, bem antes de a mudança climática global passar a ser amplamente percebida como uma questão. Isso também foi hipotético porque não havia limites sobre emissões de gases estufa – especificamente as de dióxido de carbono – nos Estados Unidos.
De repente, ambas as partes da questão passaram a mudar. Os governos estaduais estão propondo medidas de ocntrole das emissões, e a renovação das licenças de plantas nucleares tornou-se iminente nesse contexto. Oyster Creek abriu perto de Egg Harbor, em Nova Jersey, em 1969, e sua licença expira em 2009. Pouco menos da metade da eletricidade produzida nesse Estado vem de plantas nucleares, e a de Oyster Creek, sozinha, produz em torno de 9%. Em 2004, gerou 27,1 milhões de megawatts hora. Em dezembro de 2004, o Grupo de Interesse em Pesquisa do Estado de Nova Jersey manifestou-se conta a prorrogação da licença. O argumento é que a planta está projetada para 40 anos, e a decisão da Exelon, que é dona da Oyster Creek, de buscar a prorrogação da licença, ignora a segurança pública.
A planta está localizada em uma parte do Estado que apresenta um rápido crescimento, conforme alega a ONG, assinalando que, num caso de emergência em um acidente, uma evacuação populacional seria praticamente impraticável. A Comissão Regulatória Nuclear anunciou, na última segunda-feira (12/9), que avaliou a aplicação de uma extensão da licença da Exelon, e decidiu que ela merece uma revisão.
A usina de Vermont Yankee, em Vernon, perto da divisa entre Massachusetts e New Hampshire, começou suas operações comerciais em novembro de 1972, e sua licença acaba em março de 2012. Sua capacidade é de 535 megawatts. Em 2004, o reator dessa usina produziu 3,9 milhões de megawatts por hora, o que significava cerca de 71% da eletricidade produzida em todo o Estado. Mas essa produção representa apenas um terço de todo o consumo de eletricidade do Estado, pois Vermont é um importador crônico de energia.
Quanto dióxido de carbono é economizado pelos dois reatores depende de como as fontes de energia poderiam ser substituídas. Um megawatt hora de uma planta de carvão produz cerca de uma tonelada de dióxido de carbono. Em longo prazo, as companhias energéticas poderiam construir plantas de gás natural, que produz apenas a metade de uma tonelada por megawatt hora.
O projeto de acordo do governo dá a Vermont um limite de 1,35 milhões de toneladas de dióxido de carbono, o que é aproximadamente igual às suas atuais emissões. Mas se planta nuclear Vermont Yankee substituir este resultado por um semelhante, produzido com carvão, as emissões estaduais vão aumentar cerca de 4 milhões de toneladas. Já se for utilizado gás natural, o aumento seria próximo de 2 milhões de toneladas. O acordo dá a Nova Jersey um limite de 23 milhões de toneladas, mas se os resultados de Oyster Creek forem obtidos com carvão, então as emissões de dióxido de carbono mais do que duplicariam.
Alguns ambientalistas afirmam que as emissões de gases de efeito estuda deveriam ser controladas por alternância com combustíveis renováveis, incluindo fontes solares, eólicas e hidroelétricas. A produção de energia eólica, de fato, está crescendo rápido, mas acima de tudo, a eletricidade de fontes renováveis em 2004 estava apenas 1% abaixo da gerada em 2003, principalmente por causa da redução da produção hidrelétrica. Os ambientalistas propõem a redução das emissões de dióxido de carbono com a construção de mais turbinas eólicas. Contudo, especialistas dizem que a quantidade de vento que um parque éolico pode tolerar é limitada, pois o vento é intermitente e imprevisível. Além dos Estados de Vermont e Nova Jersey, sete outros estão dentro do acordo, como Nova Iorque, Connecticut, Delaware, Maine, Massachusetts, New Hampshire e Rhode Island.
(Fonte: The New York Times, 14/9)