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2005-09-13
Recentemente, uma pesquisa do Núcleo de Estudos para o Meio Ambiente da Universidade de São Paulo revelou que oito pessoas morrem por dia na capital paulista, vítimas de doenças relacionadas à poluição, 70% dela oriunda da fumaça dos carros. Pelos dados do levantamento, alguém que se mudar do interior para a capital viveria um ano e meio menos, em função dos efeitos da má qualidade do ar.

No dia cinco de agosto, o professor João Vicente de Assunção, do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), disse à Agência Fapesp que os níveis de dioxinas e furanos – compostos altamente tóxicos - em São Paulo mostraram-se mais altos que em muitas outras cidades de mundo.

Ainda segundo a Agência Fapesp, os cientistas alertam que são cada vez mais necessários estudos sobre a presença dessas substâncias – que não existem de forma natural no meio ambiente – em alimentos e no tecido humano.

A correlação entre degradação ambiental e doenças a assolarem as sociedades não chega a ser novidade. O mais preocupante é que a saúde pública não esteja fazendo todo o possível para dimensionar esse problema. Saindo da esfera da notória poluição do ar na maior cidade do país, os Governos Federais e Estaduais vêm sendo um tanto negligentes quando se trata de proteger não só os cidadãos, mas sobretudo os trabalhadores cujas carreiras os obrigam a exposição direta a produtos perigosos. A legislação do Ministério do Trabalho só tem restrições – não proibições – para quatro substâncias: benzeno, cloreto de vinila, quatro-aminobifenila e amianto.

E os riscos distribuem-se a todos, democraticamente. — Habitantes de uma região no entorno de uma siderúrgica são mais propensos a terem leucemia, pois o benzeno, substância utilizada na destilação do petróleo, atinge a medula óssea-, explica a farmacêutica bioquímica Silvana Rubano Darretto Turci, sanitarista mestre em Toxicologia e chefe da Área de Câncer Ocupacional da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer – Inca -, vinculado ao Ministério da Saúde. Os casos podem agravar-se em pessoas que trabalham nas coquerias, locais em que o gás encontra-se em maior concentração.

Segundo ela, fábricas que produzem amianto – também chamado de asbesto -, material utilizado em telhas, caixas dágua, pisos, pastilhas etc, são ambientes propícios à evolução de câncer de pulmão nos trabalhadores, pois há exposição crônica de seus organismos à substância. Essa modalidade da doença pode ser favorecida também pela sílica, presente na areia que, por sua vez, é usada na construção civil, metalúrgica e agricultura. — Sem perceber, o indivíduo respira micropartículas de sílica, que vão direto para o pulmão-, diz Silvana.

A especialista alerta ainda que oficinas mecânicas vêm dedicando-se à manutenção de baterias para carros e, desprovidas de qualquer infra-estrutura de segurança para tanto, podem estar comprometendo seriamente a saúde dos funcionários que lidam com os produtos. — O grande perigo do manuseio desses artigos é a contaminação por metais pesados, como o cádmio, o níquel, o cromo e o formaldeído-, adverte Silvana Turci, evocando a má situação em que, provavelmente, se veriam estes trabalhadores ao descobrirem um tumor. — Imagino que, se nem carteira assinada eles têm, nem as mínimas condições de trabalho, também não terão assistência por parte do empregador.

As atividades profissionais apresentam estreita ligação, por exemplo, com o câncer de pele, que, apesar de ter forma simples de prevenção (leia no final da reportagem), ainda é um dos de maior incidência no Brasil. — Muitos trabalhadores, como os carteiros, pescadores e trabalhadores rurais, estão diariamente expostos ao sol, sem nenhum tipo de proteção-, diz Silvana, para quem um dos maiores problemas em relação a essa doença especificamente é que o câncer tem um tempo de latência em geral longo. — Um paciente pode manifestar a doença de 15 a 20 anos após a contaminação.

A incessante busca feminina pelo padrão de estética vigente também pode fazer com que algumas mulheres paguem preços altos. A chama escova progressiva, que virou moda como alternativa para o alisamento duradouro dos cabelos, fazia uso de uma substância altamente cancerígena para o fígado: o formaldeído. — O composto é metabolizado nesta área do corpo-, explica Silvana, alertando que muitos cabelereiros ainda utilizam o formol em cremes de alisamento, sem informar tal fato às incautas clientes. (fonte: AmbienteBrasil, 10/09/2005)

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