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2005-09-13
Pelo menos 500 hectares de milho geneticamente modificado foram plantados no país este ano, pela primeira vez e às escondidas. Digo pelo menos, porque 500 hectares é a superfície oficialmente registrada. A não declarada, ninguém sabe quanto é...

A explicação para essa aberração é que os agricultores franceses podem cultivar OGM (organismos geneticamente modificados) sem declarar porque a diretriz européia de 2001, que regulamenta as culturas de transgênicos, ainda não foi traduzida em direito Francês...! Resultado, ninguém, nem mesmo no ministério da Agricultura, é capaz de dizer com exatidão quantos hectares de OGM são cultivados hoje na França.

O procedimento não tem nada de ilegal, pois desde que uma espécie é autorizada num país da União Européia, seu plantio é automaticamente permitido nos outros. Curioso é que o ministério da Agricultura tenha mantido a informação no mais absoluto segredo durante várias semanas.

Quem botou a boca no trombone foi o jornal Le Figaro. Segundo o diário, numa reunião realizada no ministério semana passada, os representantes dos serviços de proteção dos vegetais receberam ordens de não dizer nem uma palavra sobre essas plantações. Ao que tudo indica, por causa medo de ver parcelas destruídas pelos militantes ecologistas.

Ora, toda essa desinformação se traduz num problema muito sério : não se sabe onde tem OGM plantado, nem em que quantidade e nem se está havendo algum controle quanto aos riscos de contaminação das espécies convencionais.

Até o ano passado, sabia-se que o cultivo de OGM para fins comerciais não ultrapassava 17,5 hectares, graças ao repúdio por parte dos consumidores. Mas se as áreas de plantação de OGM na França aumentaram no mínimo 30 vezes de um ano para cá, é porque tem mercado: a alimentação animal.

Sabe-se, por exemplo, que os agricultores da região sudoeste, da França, onde se concentra a maior parte das culturas OGM, compram as sementes da Espanha e depois vendem suas produções a pecuaristas ou cooperativas espanhóis.

Mas é bom lembrar que, devido a uma outra brecha nas normas européias, o consumidor que não quer saber de OGM dentro do seu prato, acaba sendo ludibriado. A indicação da presença de OGM nos alimentos de origem animal ou derivados de animais alimentados com transgênicos não é obrigatória, como é o caso dos produtos de origem vegetal. Assim, muitas vezes, através da cadeia alimentar, nós estamos consumindo OGM ... sem saber.

Resumindo, os riscos alimentares são pouco conhecidos e ainda não existe nenhum estudo conclusivo quanto a inocuidade dos OGM. É, portanto, temerário ver o princípio de precaução sendo atropelado de maneira tão irresponsável e venal.

Se o governo francês tem se mostrado reticente para tratar o assunto, não é por acaso. O debate é mais do que espinhoso. Imagine a confusão na hora de discutir as responsabilidades e decidir quem vai pagar em caso de contaminação!

Mas depois de ter levado uns puxões de orelha da Comissão Européia, o ministro francês da Agricultura, Dominique Bussereau, prometeu uma lei sobre a comercialização dos OGM para este outono europeu. Mas ela chega atrasada. Essa primeira safra já terá feito o estrago que tinha que fazer. Não é nenhuma surpresa, os políticos são mesmo incapazes de se antecipar. Eles só funcionam a reboque. (Por Jô de Carvalho, www.intellibusiness.com.br)

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