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2005-09-13
O biólogo americano Thomas Lovejoy mora nos arredores de Washington, nos EUA, mas se considera um brasileiro, assim como suas duas filhas. Pioneiro em usar a expressão diversidade biológica, veio aqui pela primeira vez em 1965 e voltou outras centenas. Foi consultor do Banco Mundial, vice-presidente do WWF – Fundo Mundial para a Natureza – e o primeiro ambientalista condecorado com a Ordem do Rio Branco. O papa da biodiversidade era venerado por ecologistas. Até que defendeu a energia nuclear por ter menos impacto ambiental. Na véspera de uma conferência no Universo do Conhecimento, em São Paulo, ele deu a seguinte entrevista:

ISTOÉ – Quais lições tirar da tragédia de New Orleans? Thomas Lovejoy – Isso era previsível. Não é só um desastre natural, é também culpa nossa. A mudança de clima traz furacões com maior intensidade e freqüência. Aí vem o problema do manejo da bacia do Mississippi. Todo ano, o delta do rio desce e uma nova camada de lama se acumula. Pouco a pouco, o nível desceu e o mar subiu por causa da temperatura da Terra. E as obras contra enchente aumentaram a força das águas. Essa combinação enfraqueceu as defesas naturais da cidade. A lição que fica é que até o país mais rico do mundo não pode ignorar a natureza. É arrogância pensar que somos tão inteligentes, tão ricos e poderosos que podemos tudo.

ISTOÉ – O Katrina terá efeito didático? Lovejoy – Vai ajudar. O preço da gasolina vai nos obrigar a usar energia com mais eficiência. Não falamos em falta de luz, só em buscar fontes com menos efeitos ambientais. Não há uma única solução. A energia vai depender do sol, do vento, do hidrogênio, um pouco de nuclear e hidrelétrica, que, aliás, não é totalmente limpa porque altera a ecologia dos rios. Para vocês no Brasil, a questão é saber o que New Orleans significou em relação aos preparativos e à espera de catástrofes naturais.

ISTOÉ – Qual sua avaliação? Lovejoy – Não existe um país no mundo sem problemas ambientais. Temos que buscar novos modelos de desenvolvimento e evitar a degradação. Fiz para o Banco Mundial uma avaliação defendendo um plano para manejar o fogo do cerrado brasileiro. Precisamos preservar e pensar na biodiversidade como uma biblioteca da vida onde estão nossa comida e nossos remédios.

ISTOÉ – Por que o sr. defende a energia nuclear? Lovejoy – Olhando para o efeito estufa e as mudanças que começam a aparecer, acho que é possível usá-la no curto e médio prazo. Muitos têm medo, com razão, mas temos que fazer uma escolha para mudar as atuais fontes de energia. A neve das montanhas na zona tropical, como nos Andes e no Monte Kilimanjaro, desaparecerão em 15 anos. Os mares estão mais ácidos por causa da concentração de gás carbônico na atmosfera. Issso afeta milhares de espécies, como moluscos e recifes de coral, que vão ter osteoporose. Precisamos pensar num novo modelo de qualidade de vida. Temos que comer, mas não precisamos comer o último caviar do planeta. (IstoÉ, 12/9)

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