Grileiros em guerra contra assentamento no Pará
2005-09-12
Grileiros de terra e madeireiros ilegais que atuam em Pacajá (PA)vêm fazendo ameaças de morte para impedir que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, em parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) implante, numa área da Fazenda São Pedro, um projeto de desenvolvimento sustentado para 70 famílias de agricultores sem-terra que poderão ser assentadas no local nos próximos meses.
Na semana passada, uma força tarefa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) apreendeu 145 toras de madeira de várias espécies extraídas ilegalmente da fazenda.
No flagrante do crime ambiental foram apreendidos dois tratores, dois caminhões e quatro motosserras de propriedade de Antônio Moraes Pereira, mais conhecido por Tonico. Ele é um dos que têm feito ameaças de morte, algumas delas gravadas por integrantes da família Rualdes, proprietária da fazenda de 45 mil hectares. Os Rualdes pretendem doar 5 mil hectares de suas terras para a reforma agrária, mas querem que o assentamento das 70 famílias seja feito pelo Incra.
A família acredita que, com a floresta em pé, os assentados poderão explorar os recursos naturais sem devastar a área, gerando emprego e renda para eles. Os grileiros e madeireiros já derrubaram uma pequena parte da floresta e rejeitam a presença de qualquer família sem-terra no local. Para impedir que a Polícia Militar e o Ibama chegassem à área que estão devastando, eles derrubaram duas pontes de madeira e bloquearam a estrada com toras.
Manejo - Ontem, quem esteve em Pacajá foi o chefe da Unidade Avançada do Incra em Altamira, Bruno Kempner. Ele se reuniu com agricultores no Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município para resolver o impasse na demarcação e assentamento das 70 famílias, que hoje vivem acampadas em Mosqueiro, distrito de Belém, Ananindeua e Pacajá.
O assentamento está sendo planejado pelo Incra com apoio da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetragri) e parceria técnico-científica com a Ufra, que ficará encarregada de fazer o inventário da fauna e flora da região para elaboração do plano comunitário de manejo florestal sustentável e sua aprovação junto ao Ibama.
Os assentados farão cursos para manejo dos recursos florestais, identificação botânica, produção de sementes, manipulação de ervas medicinais e utilização de óleos e resinas para fins medicinais. Os agricultores estão organizados na Associação dos Agricultores, Aqüicultores e Pescadores Artesanais Ecológico do Estado do Pará (Agrap), que tem como presidente José Araújo dos Santos, conhecido por Zezinho.
Incra confirma entrega de cestas básicas e promete terra
Há vários meses uma parte da fazenda vem sendo alvo de disputa por grupos madeireiros liderados por Tonico e Joanilson, que fazem exploração florestal ilegalmente na região e impedem a qualquer custo que as terras sejam destinadas à reforma agrária, preferindo devastá-las para vender a madeira. Durante o encontro com os sem-terra, Kempner garantiu aos agricultores que os técnicos do Incra começam nesta semana a levantar a situação da fazenda e identificar quem está atuando ou grilando o local.
Ele assegurou que o Incra fornecerá 50 cestas básicas às famílias que serão assentadas na área e tranqüilizou os trabalhadores rurais que, caso o assentamento não seja consumado na área da fazenda, o órgão vai identificar novas áreas para destinar às famílias. O presidente da Agrap, José Araújo dos Santos, fez um histórico da luta da entidade, acusando o Incra de Belém de ser o maior culpado pelos conflitos agrários na região de Pacajá.
Zezinho disse que o deputado federal Zé Geraldo estava em Pacajá e, talvez, por falta de convite não participou da discussão com os agricultores da Transamazônica. Participaram também do encontro com os agricultores o secretário de políticas agrárias do sindicato dos trabalhadores de Pacajá, Deurival Silva e o representante da família Rualdes, Enival Lima. Ao término da reunião, Lima registrou ocorrência na Delegacia de Pacajá, comunicando os incidentes provocados por madeireIros que destruíram pontes, derrubaram árvores e colocaram pneus no ramal de acesso a área da fazenda, impedindo a ação de fiscalização do Ibama e do BPA, no ramal São Vicente, distante 24 km de Pacajá. (O Globo, 09/09)