(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2005-09-09
Em entrevista exclusiva à Radiobrás, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirma que a o projeto de Lei de Gestão de Florestas Públicas (PL 4776), se aprovado, dará origem a um processo virtuoso, em termos sociais, ambientais e econômicos, a partir da oferta adequada de madeira para a indústria. Ela prevê que a lei estanque o processo de grilagem de áreas públicas.

Segundo Marina, a idéia é combinar a exploração madeireira com outras atividades e promover a transformação da matéria-prima na própria região. Ela estima que a experiência inicial desse sistema, em torno da BR-163 (rodovia que liga Cuiabá-MT a Santarém-PA, e cujo asfaltamento é previsto para este ano), pode gerar 100 mil empregos.

Radiobrás - Em que momento e diante de que fatos o ministério concluiu que esse modelo era a melhor solução para o uso de áreas que correspondem a 75% da Amazônia?

Marina Silva - Nós tivemos a constatação que a maior parte das terras na Amazônia - sobretudo nos estados que têm uma grande base florestal, como o Pará - é de terras públicas. E havia a necessidade de um marco legal que permitisse a utilização de florestas públicas para o modelo sustentável a partir de critérios que estabelecessem o uso oneroso [com cobrança] para os grandes manejadores e a concessão para os pequenos, comunitários. A partir daí nós começamos a trabalhar a idéia de um projeto de lei que estabelecesse esse marco legal, além da criação de mecanismos de fomento e principalmente a criação do Serviço Florestal Brasileiro.

Radiobrás - Menos de 5% da produção madeireira da região é certificada. O próprio ministério ainda não tem indicadores para mostrar se os planos de manejo sustentável já implantados têm obtido viabilidade - a previsão é preparar esses indicadores até o fim do ano. Não seria recomendável uma experiência de transição, em escala menor?

Marina - Pela extensão das áreas com potencial, o que está sendo proposto no distrito florestal [delimitado na área de influência da BR-163], de cerca de 5 milhões de hectares para o manejo, é uma atividade em caráter piloto - embora o projeto seja de grande escala. Antes de todo o processo de fiscalização, havia uma produção florestal que gerava 18 mil empregos sobre bases ilegais; com o distrito florestal, isso tem um potencial de 100 mil empregos. Além disso, estamos trabalhando a possibilidade de fazer o inventário florestal e o disponibilizar, estamos trabalhando com a idéia de fazer um plano anual de outorga, teremos instituições de pesquisa que de três em três anos farão uma avaliação ambiental de todo esse processo.

Radiobrás - A senhora pode falar mais sobre o plano de transição?

Marina - Nas disposições transitórias, o PL [projeto de lei] estabelece a possibilidade de que aqueles planos de manejo, embora em terra pública e mesmo que estejam sendo feitos corretamente, fiquem em caráter provisório, sem qualquer expectativa de posse, até que se estabeleça o Plano Anual de Outorga, que se faça uma concessão pública. Eles [os contemplados nessa etapa] depois terão que concorrer como qualquer outra pessoa que esteja interessada em participar do processo de concessão pública.

Radiobrás - O Plano Anual de Outorga, que a senhora citou, é uma das bases práticas do projeto, uma vez que definirá que áreas, e em que condições, serão concedidas. Um instrumento importante para isso é o Zoneamento Ecológico-Econômico, que busca mostrar as condições e vocações de cada área. Como ele está caminhando?

Marina - A parte do Zoneamento Ecológico-Econômico está sendo feito por alguns estados e é uma ferramenta para o processo da dinâmica de desenvolvimento na região. O zoneamento é importante, mas o PL [projeto de lei] é fundamental, é em si mesmo uma ferramenta que pode destinar áreas para o manejo sustentável. Já está prevista uma fase de transição até que se crie o Serviço Florestal, até que se possa fazer o plano de outorga, até que se possa estabelecer o regime de concessões públicas, exatamente para que se tenha um período em que vamos fornecer o suprimento de madeira adequado para o setor produtivo. A partir daí você vai criando um processo virtuoso em que as atividades possam se dar em bases sustentáveis, tanto do ponto de vista quanto econômico quanto social.

Radiobrás - Que atividades podem se dar de forma complementar ao manejo?

Marina - O uso de resinas, óleos, essências da floresta é um exemplo. A intenção é fomentar também o processamento da matéria-prima na própria região, com isso gerando mais renda e mais emprego, e conduzir esse processo com ampla participação da sociedade, para que a gente possa avaliar os resultados não apenas do ponto de vista econômico, mas também ambiental e social. Uma coisa que a gente tomou bastante cuidado foi de fazer com que os pequenos manejadores possam ser priorizados no que concerne ao acesso à infra-estrutura. Isso a gente aprendeu com a experiência de outros países, em que geralmente os grandes [concessionários] se apropriam das áreas que estão mais perto da infra-estrutura e os pequenos são jogados para regiões de difícil acesso.

Radiobrás - Como o manejo de madeira vai se relacionar com o mercado internacional? Existiu pressão das indústrias madeireiras pela formulação do projeto, para que mais madeira certificada esteja logo disponível?

Marina - Primeiro, há uma forte determinação da parte do governo de combater as práticas ilegais. Quando assumimos o governo, tínhamos apenas 300 mil hectares de floresta certificados. O esforço do ministério, através do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], e as ações integradas do governo, combatendo muito fortemente essas práticas - o que nos levou à apreensão de 70 mil metros cúbicos de madeira ilegal em 2003 e 95 mil metros cúbicos de madeira ilegal até a metade de 2005 -, têm expurgado os ilegais do mercado e criado condições efetivas para que os legais se estabeleçam. Temos absoluta clareza de que a melhor forma de competir com as atividades predatórias é dando valor à floresta em pé. E o mecanismo que propõe o PL[projeto de lei] é exatamente para que as florestas continuem sob o domínio da União. Porque, com a forma como [o manejo] vinha sendo feito secularmente, acabava se configurando uma expectativa de titulação dessas áreas para proprietários privados, o que com o PL acaba definitivamente.

Desafio para a Amazônia é fazer com que toda atividade se dê em bases sustentáveis, defende Marina
Radiobrás - O controle do desmatamento é apontado com um dos principais focos do projeto de lei. Os órgãos fiscalizadores serão fortalecidos?

Marina Silva - Isso já está acontecendo. Nós tivemos autorização para concurso do Ibama, que está ingressando mais 600 analistas ambientais e, num segundo momento, mais 350. Nossos servidores chegaram a ter uma melhoria salarial de 120%. Estamos contratando, em caráter provisório, mais de 100 analistas ambientais e engenheiros ambientais para as áreas em que a pressão é maior. Estamos fazendo um investimento no potencial de ação tanto na parte de fiscalização quanto na Diretoria de Florestas e na Secretaria de Biodiversidade e Florestas.

Radiobrás - Com o desmatamento veio à tona a fragilidade dos próprios órgãos fiscalizadores. O projeto se condiciona por aí? Ou só a partir do PL [projeto de lei] é que esse fortalecimento começa?

Marina - O fortalecimento já está acontecendo, como mencionei. Nós tivemos um processo de estruturação do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] , a criação de unidades de conservação - cerca de 8 milhões de hectares -, todo o processo de regularização fundiária que está sendo feito agora pelo Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], a criação de 16 bases operativas, todo o trabalho integrado que vem sendo feito por Ibama, Polícia Federal, Polícia Rodoviária, Ministério do Trabalho, Exército, Ministério Público. Os dados de 2004-2005 apontam a tendência de queda de desmatamento altamente significativa. Vê-se no Pará, estado que em 2003 tinha o maior índice, uma tendência de redução de desmatamento de mais de 80%.

Radiobrás - São resultados expressivos. Mas existe disposição do governo de dar um caráter mais permanente a esse trabalho?

Marina - Não se trata de ações emergenciais. A decisão do presidente Lula foi de agir contra as atividades predatórias, o desmatamento. Em 2003, nós estabelecemos grupo ministerial, permanente, envolvendo 13 ministérios, coordenado pela Casa Civil. Foi apresentado um plano que tem quatro eixos estruturantes - ordenamento territorial e fundiário, fomento a atividades produtivas sustentáveis, apoio à ciência e tecnologia da região e revisão de todas as obras de infra-estrutura. E é essa estratégia que agora está em curso. Tivemos as operações Faroeste, Setembro Negro e Curupira, agora temos um processo que se estende para todos os estados.

Radiobrás - Desde o início, a senhora defendeu que a sustentabilidade ambiental permeasse todas as políticas do governo. Entidades afirmam que essa transversalidade não se concretizou e que os outros ministérios, muitas vezes, só aceitam algumas limitações de caráter ambiental. A pavimentação da BR-163 (rodovia que liga Cuiabá-MT a Santarém-PA) seria uma prova disso?

Marina - Diria nesse momento uma das diretrizes que mais têm prosperado no governo é a da política ambiental integrada. Quando chegamos, a BR-163 estava praticamente pra ser licitada. Foi por uma decisão do centro de governo, a partir de uma proposta do Ministério do Meio Ambiente, que os ministérios dos Transportes e o da Integração Nacional pararam a licitação. Iniciamos um processo de ampla discussão para que a abertura da BR não fosse mais um vetor de destruição. Isso se configurou na criação de várias unidades de conservação, na medida provisória que criou a ferramenta da limitação administrativa provisória - imobilizando cerca de 8 milhões hectares de florestas -, e nós conseguimos perceber, nesses dados que o Deter [sistema de detecção de desmatamento em tempo real via satélite do Instituto de Pesquisas Espaciais] apresentou preliminarmente [em 27 de agosto], que em uma das regiões onde o desmatamento crescia 500%, em 2002 e 2003, houve uma redução de 81% do desmatamento. No caso da BR, 18 ministérios estão envolvidos. O Ministério do Meio Ambiente trabalha num conjunto de 32 grandes ações no âmbito do governo, além das agendas multilaterais coordenadas pela Casa Civil, nas quais, na maior parte dos casos, tem o papel de secretaria executiva.

Radiobrás - É possível a soja e a pecuária terem uma presença forte na Amazônia em bases sustentáveis? Essas atividades podem conviver bem com as atividades das comunidades locais e com o respeito ao meio ambiente?

Marina - É um desafio colocado para a Amazônia. De que qualquer que seja a atividade produtiva ocorra em base sustentável. A Amazônia tem que ter uma economia diversificada. Nós não podemos achar que, para se desenvolver, ela vai ter que ser só soja, só agricultura, só pecuária, só madeira. A Amazônia tem que ter um conjunto de atividades produtivas de pequeno, médio e grande porte e em base sustentável que seja capaz de gerar emprego, gerar renda, agregando valor aos produtos, investindo pesado em ciência e tecnologia adaptada à região. Esse é o esforço que está sendo feito com o plano de combate ao desmatamento, o Plano BR-163 Sustentável e o Plano Amazônia Sustentável, que é o desaguadouro de todas essas ações. (Radiobras, 08/09)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -