Pesquisa aponta influência do aquecimento global no furacão Katrina
2005-09-09
Com uma confluência única em termos de geografia, incluindo área aberta de terras (particularmente em Nova Orleans), áreas úmidas perdidas, desflorestamento, rápido desenvolvimento e um grande número de moradores pobres, além de pesada concentração industrial, a Costa do Golfo do México é extremamente vulnerável a furacões, com ou sem aquecimento global. Katrina não é o primeiro da categoria 5 de furacões a passar sobre a Costa do Golfo (ele, de fato, enfraqueceu aos poucos para a categoria 4 antes de se registrarem deslizamentos de terra em Louisiana e no Mississippi). Considerando-se os três eventos prévios similares, dois deles ocorreram em 1935 e 1969, antes do período da maioria do aquecimento global induzido por humanos. Este retrospecto sugere que o aquecimento global não é um requisito para um ataque de furacão muito intenso. Mas pode a ciência nos dizer se a destrutividade do Katrina esteve relacionada ao aquecimento global?
Não diretamente: a ciência, enquanto método, não é boa para a atribuição de causa para eventos não controláveis, e nenhum evento climático simples pode estar ligado diretamente àqueles de longo prazo, como o aquecimento global, afirmam pesquisas do Instituto Pew Center, dos Estados Unidos. Esta inabilidade de delinear uma conclusão definitiva, contudo, em nenhum sentido justifica a conclusão de que o aquecimento global não tenha influenciado o Katrina.
O que a ciência oferece nesta questão é uma compreensão geral da física das tempestades tropicais, o que pode proporcionar uma avaliação razoável. Como os furacões puxam sua força do calor da água superficial dos oceanos, o aquecimento dessa água deveria gerar furacões mais poderosos, em média. Além disto, os recordes de temperaturas da água superficial do mar mostram que os oceanos estão mais de 1ºF (Fahrenheit) mais quentes, em média, atualmente, do que há um século. Em escalas curtas de tempo (dias a meses), as temperaturas flutuam acima e abaixo da média de longo prazo, e a água pode ficar mais quente ou mais fria do que a média em um dado dia. Contudo, quanto mais alta a média, mais provavelmente a água vai aquecer o suficiente para produzir uma forte tempestade em qualquer dia durante a temporada de furacões.
É o caso que ocorreu: enquanto Katrina estava se fortalecendo de uma tempestade tropical de categoria 5 para um furacão de categoria 5, quando passava entre Flórida Keys e a Costa do Golfo, a superfície das águas no Golfo do México estava geralmente aquecida – em média, 2ºF mais quentes que o normal para esta época do ano. Desta perspectiva de primeiros princípios, então, não é surpresa que Katrina tornou-se um temporal muito poderoso. Como não há método que determina se o aquecimento global teve papel neste caso, é razoável dizer que ele aumentou a probabilidade de que as águas superficiais do Golfo estivessem não usualmente aquecidas em um dado dia, como no dia 29 de agosto, quando Katrina chegou à sua maior intensidade.
Além das inferências do entendimento dos cientistas do Pew Center sobre a física dessas tempestades, há evidência de que as tempestades estão, de fato, se tornando mais intensas, como se poderia esperar? Um estudo publicado recentemente na revista Nature concluiu que desde o início dos anos 50 a média de intensidade dos furacões tropicais aumentou globalmente, e esta tendência tem correlação com o tempo em que aumentaram as temperaturas médias das águas superficiais nos trópicos. Esses dados mostram uma tendência real que fecha com as expectativas do Pew Center quanto ao seu entendimento básico do clima, e uma tempestade poderosa como Katrina faz sentido neste contexto.
Assim, embora os cientistas não possam estar certos sobre se Katrina foi intensificado pelo aquecimento global, pode-se dizer que este fenômeno claramente criou circunstancias sob as quais poderosos furacões são mais prováveis de ocorrer neste ponto da história (e no futuro) do que no passado. Além disto, seria cientificamente pouco plausível concluir que o Katrina não foi intensificado pelo aquecimento global. Uma avaliação razoável da ciência sugere que vamos enfrentar eventos similares, e que poderosas tempestades provavelmente acontecerão com maior freqüência do que a que estávamos acostumados no passado. (Com informações do The Pew Center)