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2005-09-08
A verdadeira internacionalização da floresta amazônica já começou e avança a cada dia: ao transformar árvores em gás carbônico (CO2) e alimentar o aquecimento global, os próprios brasileiros cuidam do assunto.

O autor da afirmação tem nome e reputação para fazer as críticas: Thomas Lovejoy, ecólogo e estudioso da Amazônia há 40 anos. Pioneiro da pesquisa sobre fragmentação florestal, presidente do Centro Heinz de Ciência, Economia e Ambiente, em Washington, ele foi o primeiro cientista a usar o termo diversidade biológica, ainda nos anos 1980.

— Transformar a floresta em CO2 é uma forma de internacionalização da Amazônia - afirmou.

O americano Lovejoy, que vem ao Brasil nesta semana para uma conferência sobre ambiente e governança, diz que há uma histeria no país quando estrangeiros pedem mais proteção da floresta.

— Sempre houve um tipo de histeria sobre biopirataria. E na prática a única biopirataria é a destruição da floresta. É roubá-la de futuras gerações de brasileiros. Cientistas são pessoas como qualquer outra. Haverá um ou outro, ocasionalmente, que não seguirá as regras. Mas a maioria é muito preocupada com isso.

Diante dos dados sobre desmatamento no norte do país, Lovejoy afirma que a floresta está próxima de um ponto limite, a partir do qual a redução da cobertura verde será incapaz de gerar a chuva necessária e, consequentemente, secar. É uma questão de poucos anos, avalia. Leia abaixo trechos da sua entrevista à Folha.

Folha - Como o sr. Avalia a expansão da fronteira agrícola no Brasil?

Thomas Lovejoy - Essa questão da fronteira agrícola é um assunto de ganhos no curto prazo versus ganhos no longo prazo. Você pode fazer muito dinheiro no curto prazo com a soja. Mas, no longo prazo, o valor dos recursos genéticos e da floresta para o Brasil são muito, muito maiores.
Estudos muito elegantes mostram que a chuva da Amazônia é gerada no local porque existe floresta. Isso significa que existe um ponto em que a redução da floresta vai diminuir isso [a precipitação], e vai começar a secar. E não seremos capazes de parar o processo. Ninguém sabe que ponto é esse. Para mim, este é o tema mais importante neste momento.

Folha - A urgência puxa a necessidade prática de uma alternativa econômica para os moradores da floresta. Como fazer?

Lovejoy - É muito importante oferecer qualidade de vida para o povo da Amazônia. Não há nenhuma solução para o desenvolvimento econômico, a menos que se resolva esse problema para a pessoas de lá. Por isso há governos como o de Jorge Viana [do Acre] buscando alternativas econômicas baseadas na exploração sustentável da floresta, em vez de commodities agrícolas.

Folha - Embora elogiáveis, são iniciativas incipientes, não?

Lovejoy - Acreditamos que possam dar resultado também no curto prazo. Mas o longo prazo é um valor gigantesco. Porque o Brasil e a floresta têm uma porção significativa dos genes do mundo. E o investimento de longo prazo em ciência e empreendedorismo vão encontrar algo incrível por lá.

Folha - Na prática, vemos áreas enormes da floresta queimarem por ausência de fiscalização. O governo atual avançou?

Lovejoy - É muito significativo como o Brasil tem conseguido proteger partes da floresta. É uma história que precisa ser contada. Há a parte destruída, mas também a conservada. Há um projeto em andamento chamado Arpa, feito em conjunto pelo Banco Mundial e pela WWF, e quando se vê o que foi feito, inclusive sobre a conservação de áreas indígenas... Também o que vem sendo feito nos Estados, que não eram atores há dez anos. Cerca de 40% da Amazônia brasileira está sob alguma forma de proteção, o que é impressionante. E Estados individuais estão construindo essa capacidade de zoneamento ecológico e econômico. O problema é que no sul do arco de desmatamento não há fiscalização devida.

Folha - Quase metade da floresta sob proteção não é bem o senso comum. Imagina-se um cenário pior que esse.

Lovejoy - Sim, ao mesmo tempo é verdade. Mas de uma forma, é uma corrida para o fim. O assustador é o que vai acontecer se cruzarem o ponto de equilíbrio. Porque então muito dos bons esforços terão sido por nada. E acredito que estamos muito próximos. O número de incêndios que ocorrem hoje. Florestas tropicais não queimam tão facilmente. E a quantidade de incêndios parece ser evidência de secura local, não dá pra dizer exatamente, mas é um sintoma, certamente.

Folha - O governo atual propõe alugar áreas de floresta para a iniciativa privada. É uma boa idéia?

Lovejoy - Esse projeto tem um grande potencial. Por duas razões. A primeira é que estende a proteção da floresta além das reservas que o governo cria. E em segundo, está ligado a interesses privados, basicamente constituindo uma base para o desenvolvimento sustentável. De repente, torna-se interesse de alguém apoiar o desenvolvimento sustentável. Na Costa Rica, por exemplo, não sei quantas centenas de áreas privadas de conservação existem. Num lugar há uma fazenda de borboletas, em outro, uma fazenda ecológica. É sempre empreendedorismo empresarial.

Folha - O sr. Enfrentou algum episódio de resistência à sua presença na Amazônia, por ser estrangeiro?

Lovejoy - Algumas vezes. Ainda acontece. Sempre houve um tipo de histeria sobre biopirataria. E na prática a única biopirataria é a destruição da floresta. É roubá-la de futuras gerações de brasileiros. Cientistas são pessoas como qualquer outra. Haverá um ou outro, ocasionalmente, que não seguirá as regras. Mas a maioria é muito preocupada com isso. O foco real deveria ser preservar a floresta. Essa é a biopirataria real. Transformar a floresta em CO2 é uma forma de internacionalização da Amazônia.

Folha - É possível indicar qual é o vilão, singular ou plural, que atrapalha a conservação?

Lovejoy - É muito difícil ter uma única solução. A solução no final precisa incluir zoneamento ecológico e econômico, fiscalização e criação de desenvolvimento com base na floresta. A minha impressão é que, quando o governo central leva isso a sério, as coisas acontecem.

Folha - Como o sr. Vê a equipe de Lula no Meio Ambiente?

Lovejoy - [A ministra] Marina é muito boa, mas o problema sempre foi fazer com que a Casa Civil levasse a sério isso. Desde que o problema [de desmatamento] veio à tona, eles têm conseguido. (Folha de S.Paulo, 06/09)

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