Empresas pagam mais por soja não transgênica
2005-09-06
A rejeição da soja transgênica por empresas processadoras do grão está beneficiando os produtores paranaenses de soja convencional. Duas grandes empresas - Olvebra e Imcopa - estão pagando bônus em suas compras de soja convencional, para que possam manter a produção farelo e derivados de soja garantindo as vendas para países que não aceitam produtos geneticamente modificados.
A empresa gaúcha Olvebra S.A. elevou o bônus de 6% para 10% nos últimos seis anos, para os fornecedores de soja convencional. - A tendência é de que o ágio aumente ainda mais nos próximos anos -, diz Marcelo Schaid, diretor comercial da empresa. - A vantagem da transgênica foi anulada pelo ágio da convencional e pelos elevados custos do royalty. A tendência é que a área de não transgênicos cresça em curto prazo -, afirma Antônio Wünsch, presidente da Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai Ltda - Cotrimaio.
Segundo matéria do jornal Gazeta Mercantil, a Cotrimaio forneceu soja convencional até a safra 2002/03. Ela deixou de fornecer para a Olvebra quando o percentual de recebimento de não-transgênico caiu de 80% para 67%. Na safra 2003/04, a indústria firmou parceria com a Cooperativa Mista São Luiz Ltda - Coopermil, atual fornecedora. O gerente-técnico da Copermil, Sérgio Schnider, garante que a demanda por soja não-transgênica é maior que a capacidade de produção. Há quatro anos, estimava-se que 20% da produção da região fosse de grãos geneticamente modificados. Na última safra, o índice era de 70%. - Está difícil encontrar semente convencional. Mas vale a pena porque vale um bônus que não se pode desprezar -, acrescenta.
Desde a safra 1999/2000 que a Olvebra paga um prêmio para ter soja convencional. -Toda a nossa linha de produtos é voltada para a saúde. Então, quando surgiu a polêmica, preferimos o grão convencional -, diz Marcelo Schaid, diretor-comercial da Olvebra. No entanto, neste ano, devido à seca, a Olvebra precisou buscar grãos fora do Rio Grande do Sul. Cerca de 80% da produção da Olvebra - que recebe entre 600 a 700 toneladas de farelo por mês - veio do Paraná e Mato Grosso.
Quase toda a produção da Olvebra é voltada para o mercado externo - apenas 15% é exportada principalmente para a União Européia e Japão. Nestes mercados, além do nicho do não-transgênico, a empresa explora ainda os orgânicos. Em 2006, a perspectiva é de que produtos de soja orgânicos sejam comercializados também no Brasil. O prêmio pago ao grão que não utiliza agrotóxicos no cultivo é de 70%.
Mercados garantidos - A empresa paranaense Imcopa tem cinco fábricas no Paraná e emprega 600 pessoas. Criada em 1994, a Imcopa processava 600 toneladas de grãos por ano. Em 1998, quando optou pelo produto convencional, o volume estava em 250 mil toneladas. Para 2005 estão previstos 2 milhões de toneladas de soja, 20% de toda a produção paranaense, que virarão lecitina, óleo e farelo, e 98% desses produtos serão exportados. A empresa admite destinar 2,5% do faturamento previsto para 2005, de US$ 850 milhões, ao pagamento de prêmios a agricultores e cooperativas. - Estamos conversando -, afirmou Enrique Traver, diretor operacional da companhia. Segundo ele, os valores adicionais em estudo vão de US$ 5 a US$ 10 por tonelada, o que implicará desembolso de até US$ 22 milhões.
Enrique Traver revelou que o grão convencional abriu a porta de mercados nobres, como o Japão, que consome 4 milhões de toneladas de farelo por ano. - E do total de 1 milhão de toneladas que importava, 50 mil toneladas eram do Brasil. Em 2005, a Imcopa vendeu para aquele país 200 mil toneladas. Fez um embarque em junho, outro esta semana e dois estão programados para os próximos meses. Com isso, só o Japão representará uma receita adicional de US$ 60 milhões por ano.
Há seis anos, a Imcopa tinha três produtos e três clientes. Agora, são 12 produtos, todos obtidos a partir da soja e cerca de 500 clientes. Entre eles estão indústrias de alimentos como Nestlé, Kraft Foods e Unilever. Ela já vendia para fornecedores de carne das redes varejistas Tesco e Asda, do Reino Unido, e em março fechou contrato para fornecer farelo para fornecedores do Carrefour na França. (Eco Agência, 05/09)