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2005-09-06
Cerca de 20 anos após o grande acidente na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, um novo relatório científico detectou que os efeitos póstumos sobre a saúde e o meio ambiente não se mostraram tão horríveis quanto os cientistas haviam previsto. O relatório foi preparado por um painel de mais de cem especialistas que fazem parte de um convênio de agências das Nações Unidas.

Uma unidade de enfermagem permanece em Prypiat, na Ucrânia, em uma zona de exclusão do desastre, ocorrido em 1986. Segundo os responsáveis por ela, foram realizados grandes programas de compensação às vítimas, os quais, contraditoriamente, se tornaram a principal barreira à recuperação da região, criando uma cultura de dependência e sugando grande parte dos recursos do governo local. Eles recomendam que o programa seja eliminado.

O relatório, chamado O Legado de Chernobyl: Saúde, Meio Ambiente e Impactos Socioeconômicos, afirma que quatro mil mortes serão provavelmente atribuídas ainda ao acidente – em comparação com as dezenas de milhares previstas na época do acidente. Apenas 50 mortes – todas ocorridas entre trabalhadores de emergência que atuavam perto do reator – podem ser atribuídas diretamente à exposição à radiação após a explosão do reator número 4 da usina, ocorrida em abril de 1986, concluiu o painel. O restante das mortes será por câncer, a uma elevada taxa, maior até do que se havia esperado entre as pessoas expostas à radiação perto de Chernobyl.

Mas para milhões de pessoas que estiveram sujeitas a baixos níveis de radioatividade, por meio de partículas radioativas espalhadas pelo vento, os efeitos à saúde foram comprovadamente mínimos, afirma o relatório. A poderosa explosão que abateu-se sobre Chernobyl enviou pedaços do núcleo do reator para os campos próximos, e nuvens de radioatividade pairaram no ar. O fogo queimou por dez dias e espalhou partículas radioativas que foram levadas pelo vento para amplas áreas rurais da então ex-União Soviética. As partículas instalaram-se em corpos humanos e contaminaram campos, florestas e estoques de alimentos naturais.

De acordo com o relatório, um núcleo de provavelmente cem mil a 200 mil habitantes continuou severamente afetado pelo desastre. Mas sete milhões de pessoas no que é hoje a nova Rússia, a Ucrânia e a Bielarússia ainda recebem algum tipo de benefício de Chernobyl, desde auxílios mensais até ingresso preferencial em universidades, ou mesmo férias anuais terapêuticas. Na Ucrânia, o número de pessoas consideradas como permanentemente desabilitadas pelo acidente de Chernobyl, bem como suas crianças, aumentou de 200, em 1991, para 64,5 mil em 1997 e 91,219 mil em 2001– mesmo que os efeitos da radiação tenham declinado com o decorrer do tempo, observa o relatório. Tanto a Ucrânia quanto a Bielarrússia ainda gastam cerca de 5% de seus orçamentos anuais com as vítimas de Chernobyl.

O painel concluiu que, ao contrário do que se havia previsto, não houve aumento da incidência de leucemia, doença altamente associada à exposição à radiação – exceto um pequeno aumento entre trabalhadores que se encontravam na usina contaminada. Também não foram constatados queda na fertilidade nem aumento nos defeitos de nascimento. Logo depois do desastre, a União Soviética declarou uma zona de exclusão de 18 milhas ao redor do reator, a qual ainda existe e foi restabelecida por centenas de milhares de pessoas. A agricultura foi proibida nas áreas contaminadas.

–As pessoas desenvolveram um fatalismo paralisador porque pensam que estão em risco maior do que realmente estão, o que as leva ao uso de álcool, drogas e à desproteção sexual, bem como ao desemprego–, afirma o Dr. Fred A. Mettler, líder do grupo que analisa os efeitos ambientais no Fórum de Chernobyl, grupo de pesquisa constituído por agências das Nações Unidas e seus representantes provenientes de países atingidos pelo acidente. (Fonte: The New York Times, 6/9)

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