Plástico: estudante desenvolve tijolo ecológico
2005-09-02
Sempre que uma nova utilidade é encontrada para as garrafas pet, o meio ambiente agradece. Afinal, o mundo produz em torno de 7 milhões de toneladas, ao ano, de material plástico, cuja expectativa de degradação é de 400 anos. No laboratório de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará (UFPA), o então graduando Neílton da Silva Tapajós, hoje engenheiro químico, desenvolveu um tipo de tijolo a partir de garrafas plásticas de refrigerante, para utilização na construção de casas populares. Além do aspecto da inovação tecnológica, o resultado da pesquisa revelou um forte conteúdo social.
A pesquisa foi apresentada como tese de conclusão de curso. Para chegar ao resultado final, Tapajós experimentou a combinação individual do pet com outros materiais, entre os quais gesso, cimento, resina cristal e até caroço moído de açaí. Quem melhor respondeu ao parâmetro construção civil foi a combinação com o cimento. Não se trata de reciclagem - a garrafa não passa por nenhum processo termoplástico de despolimerização, quando lhe é retirada a resina básica do pet. Tapajós trabalhou com a garrafa em estado natural, principalmente as de 600 ml, mais compactas e resistentes.
Ele montou um monobloco plástico, embutindo três garrafas, depois envolvido por uma camada de 1,5 centímetro de cimento, dentro de uma forma de madeira. Doze horas depois, o cimento estava curado, revelando um tijolo pré-moldado, de paredes lisas, com saliências e reentrâncias para encaixe. O monobloco em seu interior lhe deu compactação e ocupou espaço que seria preenchido pelo cimento ou barro no tijolo convencional. Ao reduzir substancialmente a quantidade de insumo, o novo tijolo tende a baixar os custos na construção de casas.
O tijolo pode ser empregado na construção de paredes de casas. Enquadra-se na categoria bloco de vedação, de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas. Bloco de vedação é todo aquele que consegue suportar a própria carga. Não pode, porém, ser empregado como bloco estrutural, ou seja, como um pilar capaz de suportar o peso de um telhado.
Outra constatação que Tapajós pôde fazer foi em relação ao nível de ruído e calor. — A literatura afirma que o pet é uma barreira térmica. Logo, numa região quente como Belém, a parede construída com esse tipo de tijolo reduziria o calor e tornaria os cômodos da casa mais refrescantes. O sol não conseguiria propagar o calor através da parede. O mesmo é possível dizer quanto ao som -, garante Tapajós.
O engenheiro químico sonha em ver sua invenção empregada na construção de casas populares para pessoas de baixa renda. Como o tijolo foi projetado com saliências e reentrâncias, o encaixe dispensaria cimento na liga. O resultado seria uma parede lisa que também dispensaria emboço e reboco. Uma camada de argamassa leve seria suficiente para deixar a parede em condições de receber a pintura final. Segundo Tapajós, o tijolo de encaixe poderia ser uma excelente alternativa ao problema do déficit habitacional na Região Metropolitana de Belém. (Diário do Pará, 01/09)