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2005-09-02
Por Carlos Matsubara
A novidade na capital do Rio Grande do Norte é o modelo de gestão. Lá são os próprios catadores que fazem a coleta porta-a-porta. —Da prefeitura, só o motorista mesmo-, brinca o presidente da associação local dos catadores, Severino Junior, nordestino arretado de 30 anos, que aos 12 já era um dos que sobreviviam do lixão da cidade, extinto há quase dois anos e hoje um aterro sanitário que lhe causa orgulho. — Isso foi uma conquista muito boa pra todos nós que vivemos do lixo-, anuncia todo prosa.

Os catadores, como em muitas outras cidades onde eles existem, são ex-sobreviventes do lixo, pessoas que vagavam pelas ruas algumas vezes em troca de uma garrafa de cachaça ou um prato de comida. — Agora eles têm consciência do seu papel e de como podem ganhar a vida trabalhando sem humilhação-, garante Severino. Estão organizados em quatro associações, todas com seu próprio galpão para triagem dos recicláveis. O que não difere, no entanto, são os famigerados atravessadores-exploradores do trabalho alheio.

O problema se complica em Natal, pois além de não poderem contar com espaço nem tempo para armazenar grande quantidade de material, como as indústrias compradoras exigem, estas sequer existem no Estado. — Quem tem condições como eles (atravessadores), estoca e revende pra estados vizinhos, como o Ceará – conta Severino.

Alcançando 75% dos bairros, em setembro a coleta seletiva completa dois anos, e de lá pra cá, quem se juntou aos catadores cooperativados consegue tirar de 300 a 500 reais mensais. A diferença se explica pela função que é exercida dentro das cooperativas. A idéia agora é ampliar o número de associados e por conseqüência, os galpões de triagem.

Severino explica que ainda há um sem-número de catadores informais que poderiam ser cooptados pelo movimento, mas a resistência se explica pela falta de consciência de muitos. —Tem gente que prefere trabalhar sozinho, em condições desumanas. Eles ainda não sabem que é possível viver com mais dignidade se estiverem organizados-, lamenta.

Os quatro galpões abrigam quase 300 pessoas divididas em três turnos de trabalho. A produtividade gira em torno de 30 toneladas por semana. Natal produz, de toda espécie de lixo, 1600 toneladas por dia.

Quem entende tudo nesse setor é um ex-surfista profissional, apaixonado pelo verde. O nome dele é Hemerson Marinho, gerente de Meio Ambiente da Urbana, empresa municipal de limpeza. Ele entrou nessa depois de largar o surf, esporte que o levou a viajar pelo mundo.

Marinho é outro entusiasta da coleta seletiva e do novo aterro sanitário. Com o projeto intitulado Catadores de Lixo, a Urbana, recebeu recentemente o prêmio Top Social 2005, instituído pela ADVB, por intermédio da Fundação Zerbini e do Ministério do Desenvolvimento Social. Ambos personagens dessa história foram palestrantes do I Congresso em Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos Urbanos realizado de 1 a 2 de setembro em Natal. Mais notícias do evento nesta edição e na segunda-feira (5/9).

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