Carcinicultura: contra danos ambientais, produção será monitorada
2005-09-01
A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) - entidade qualificada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, junto a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) - trabalha na implementação do Sistema de Gestão Integrada de Informação da Rede Nordestina de Pesquisa de Carcinicultura (Recarcine), que vai monitorar e planejar melhor a carcinicultura no Nordeste brasileiro.
A investida conta com recursos globais de R$ 125 mil, da Finep. No Ceará, o projeto contempla o mapeamento geo-espacial da produção, que vai coletar e analisar informações existentes, identificar áreas ocupadas com fazendas de carcinicultura e áreas de maior potencialidade para implantação de novos projetos.
— Vamos estruturar uma base de dados geo-ambientais das atividades de camarão do Estado -, adianta Margareth de Souza Carvalho, gerente do Departamento de Recursos Ambientais (Deram) da Funceme, para quem a proposta vai além da preocupação ambiental, pois trata de assegurar o desempenho da produção.
— Vamos formar um grande banco de dados.
O trabalho realizado pela Funceme, com prazo estimado para 24 meses, envolve a atualização da pesquisa pioneira, feita pela entidade em 1989, abrangendo a região litorânea do Norte e Nordeste do País. O levantamento da época identificou uma área potencial de 6.405 hectares no Ceará, dispersos nos diversos estuários, com características favoráveis ao cultivo de camarão marinho.
— Hoje dispomos de imagens de alta resolução e de técnicas modernas para atualizar esse mapeamento -, explica Margareth.
Expansão da atividade
O Estado - que iniciou a expansão da atividade em 1980, quando as primeiras unidades foram instaladas próximo aos rios Acaraú, Jaguaribe e Pirangi - tem 191 produtores (fazendas), 3,8 mil hectares de cultivo e produziu ano passado 19,4 mil toneladas do crustáceo, conforme dados do Censo de 2004, da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), divulgado no inicio deste ano.
No Brasil, o número de fazendas nos 14 estados produtores chega a 997 e a área cultivada 16,5 mil hectares, ainda de acordo com a ABCC. Do total de empreendimentos no País, somente 470 têm licença ambiental, informa a entidade.
A implementação do trabalho leva em conta o avanço contínuo da ocupação da terra pelo uso desordenado das planícies flúvio-marinhas e fluviais, ocupadas com a carcinicultura, adianta Margareth.
— Como essas áreas são vulneráveis à degradação, o levantamento vai possibilitar o planejamento racional da atividade -, afirma Margareth, ao lembrar que a atividade tem grande alcance social, gerando emprego e renda para as comunidades.
A Superintendência estadual do Meio Ambiente (Semace), responsável por liberar o licenciamento para implantação das fazendas, e que também controla e monitora os projetos, baseada em imagens de satélite, contabiliza 388 projetos. Do total, 110 ainda em processo de licenciamento, segundo informa a coordenadora, Maria Dias.
O resultado de todas as pesquisas realizadas por meio do Recarcine será reunido em um banco de dados único. A Finep pretende viabilizar base de informações científicas sobre a carcinicultura no Nordeste e manter uma rede de comunicação entre segmentos do governo, universidade e setor produtivo.
O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha, observa que os empresários deveriam ser ouvidos, pois têm vivência e sabem bem onde está o conflito e quais as demandas.
— Temos muitas informações, mesmo via satélite, que não ajudam em nada -, diz. Só a entidade gastou mais de R$ 300 mil em um levantamento.
— Estamos implantando ainda programas como gestão de qualidade, de rastreabilidade, de valor agregado, biossegurança e promoção das exportações, sem agredir o meio ambiente -, afirmou Rocha.
Desvio de fluxo
Os criadores de camarão em cativeiro já foram acusados de modificar o fluxo das marés, acabando com a biodiversidade, além de causar destruição no ecossistema de manguezais e alterar e contaminar o regime hídrico. Rocha afirma que essas alegações não levaram em consideração o acervo científico de instituições como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Instituto de Ciências Marinhas (Labomar), da Universidade Federal do Ceará e a Universidade Federal de Santa Catarina sobre os ambientes costeiros, que atestam a existência de uma convivência harmônica com esses ecossistemas.
Um dos estudos, realizado pelo Labomar e pela Sociedade Internacional para o Ecossistema Manguezal, aponta que a cobertura nessas nos estados do Piauí, Ceará, RN, Paraíba e Pernambuco cresceu 37,02% (16,4 mil hectares) entre 1978 e 2004. (Gazeta Mercantil, 31/08)