Vale usará carvão para queimar custo
2005-09-01
O aumento nos custos de transmissão e de distribuição de energia elétrica levou a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) a estudar a possibilidade de utilizar carvão mineral no abastecimento de suas futuras expansões. De acordo com o presidente da empresa, Roger Agnelli, levantamentos iniciais apontam que a construção de termelétricas à base do insumo seria uma alternativa mais econômica para a companhia produzir energia.
— Com os custos atuais de energia, grandes consumidores, como nós, têm de ir onde a energia é mais barata: ou busca plantas fora do país ou busca energias alternativas. Esta fonte pode ser o carvão, mercado em que estamos entrando em países como Austrália, Venezuela, Moçambique e China. Vamos tentar fazer uma operação logística que garanta que o carvão chegue aqui a preços competitivos - diz Agnelli, acrescentando que o gás natural ainda não está a todo o vapor.
Segundo Agnelli, o carvão já é competitivo frente ao preço de energia praticado hoje no país. A vantagem das térmicas frente às hidrelétricas estaria na possibilidade de instalá-las nas proximidades da unidade de produção da Vale, eliminando os altos desembolsos com transmissão - que, para ele, supera os de geração em alguns casos.
Agnelli, que participou ontem (30/08) da inauguração da hidrelétrica Risoleta Neves, construída no município de Rio Doce (MG) em parceria com a Novelis, confirmou que a CVRD não tem mais interesse em continuar no consórcio para a construção da hidrelétrica de Foz do Chapecó, em Santa Catarina. A empresa detém 40% de participação no projeto, que prevê a geração de 855 MW. Também fazem parte do consórcio a CPFL (com outros 40%) e a CEE (com mais 20%).
— Estamos em busca de algum interessado para vender nossa participação. Em Chapecó, os custos de construção subiram, os gastos com indenização de meio ambiente se elevaram e os gastos com transporte da energia até o Sudeste tornaram o preço da energia inviável - argumenta.
Outro projeto que ficou acima do estimado pela Vale é o da hidrelétrica de Estreito, em Tocantins, previsto para sair do papel no ano que vem.
— O consórcio está avaliando o que vamos fazer. Esta hidrelétrica é importante, mas está difícil tocar projetos de energia no Brasil.
Apesar do desencanto com as hidrelétricas, Roger Agnelli não descarta a possibilidade de a empresa participar dos futuros leilões de energia nova, desde que os projetos fiquem próximos às unidades da CVRD.
A meta da Vale é chegar a 2010 com 50% de auto-suficiência em energia elétrica, que poderão vir por meio de hidrelétricas ou termelétricas. Atualmente, a empresa produz pouco mais de 10% de seu consumo, que é de 260 mil MW médios. Com a inauguração das unidades de Aymorés (ES) e Capim Branco I e II, que deve ocorrer em 2006, a produção vai chegar a 20% do consumo.
Transporte pesa na conta
O diretor de energia da Novelis do Brasil, Cláudio Campos, criticou o custo de transporte de energia do Brasil, que transformou o investimento na construção da hidrelétrica de Candonga num mau negócio para a empresa.
— Nós pagamos duas vezes mais para transportar que para produzir. Atualmente, é mais barato comprar a energia na porta da fábrica - reclamou.
A indústria está localizada em Ouro Preto, a menos de 100 quilômetros da usina inaugurada ontem, na divisa dos municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, na Zona da Mata mineira.
A hidrelétrica, que tem potência instalada de 140 Megawatts (MW), pertence ao Consórcio Candonga, formado pela Vale, com 50% de participação, e pela Novelis do Brasil, com outros 50%.
A Novelis do Brasil é subsidiária da Novelis Inc., líder mundial em produtos laminados de alumínio e que entrou em operação em janeiro deste ano, após o desmembramento dos negócios laminados da Alcan, em todo o mundo.
No Brasil, além das instalações em Minas Gerais, a empresa, que produz 300 mil toneladas de chapas de alumínio e faturou cerca de US$ 900 milhões em 2004, opera outra unidade de alumínio primário em Aratu (BA), duas unidades de laminados em Pindamonhangaba e Santo André, ambos em São Paulo, um centro de reciclagem de latas de alumínio e uma indústria de coque calcinado em Cubatão, ainda em São Paulo.
Segundo o diretor da Novelis, a produção de alumínio exige consumo intensivo de energia, razão pela qual a empresa decidiu investir na construção e ampliação das usinas existentes. O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, também se queixou dos custos de transportes, que estariam inviabilizando os investimentos em projetos de uso intensivo de eletricidade, como níquel e cobre. Os dirigentes mostraram-se preocupados com a possibilidade da repetição do racionamento de energia ocorrido em 2001. (Jornal do Brasil, 31/08)