Tornado danificou construções e feriu 14 pessoas em Muitos Capões (RS)
2005-08-31
Cerca de 30 segundos bastaram para um tornado talhar uma cicatriz de 700 metros de comprimento e 150 metros de largura na zona urbana de Muitos Capões, a 275 quilômetros de Porto Alegre.
Afúria dos ventos danificou 83 edificações - dessas, 21 ficaram destruídas - e feriu 14 pessoas na noite de segunda-feira. O prejuízo, segundo o coordenador regional da Defesa Civil, major Jair Euclésio Ely, ultrapassa R$ 4 milhões. A prefeita Mara Barcellos (PP) decretou situação de emergência.
A noite de pavor começou por volta das 21h, com um blecaute. Mal havia colocado as pilhas na lanterna, o biscateiro Éder Cassiano, 22 anos, assombrou-se com o estrépito de madeiras quebrando. Era o primeiro sinal do tornado, que abatia araucárias num mato próximo. Cassiano correu para o quarto e se deitou na cama com o rosto sob o cobertor. Então, escutou um estrondo.
- Em dois segundos, passou o vento. Quando tirei a coberta, não tinha mais casa - disse.
O telhado e as paredes haviam sido arrancados. A mobília desapareceu nos ares. O som, agora, era de gritos e choro dos vizinhos da Avenida Progresso, a única asfaltada da cidade.
Aguaceiro deixa parte do Estado às escuras
Com os temporais da noite de segunda-feira e da madrugada de ontem, cerca de 60 mil pessoas ficaram sem energia elétrica parcial ou totalmente no Estado. A situação é crítica em Vacaria, Lagoa Vermelha e municípios vizinhos, onde mais de 27 mil pessoas estavam sem luz até a noite de ontem depois que duas torres da linha de transmissão da CEEE caíram com a força do vento.
Entre as 15h de segunda-feira e as 16h de ontem, as precipitações chegaram a 50,8 milímetros em Porto Alegre. Em um dia, choveu mais de um terço da média mensal de agosto, de 140 milímetros.
Granizo atinge aviário
Os telhados dos aviários do produtor Paulo Goni Fontana, 49 anos, amanheceram ontem com a aparência de queijos suíços. Dos quatro aviários, não sobrou nenhum em condições de abrigar os 52 mil frangos que o avicultor cria em Água Santa, no norte do Estado. A chuva de granizo que caiu entre a noite de segunda-feira e a madrugada de ontem provocou tantos buracos que Fontana foi obrigado a transferir as aves para as propriedades vizinhas.
A chuva forte segue no Estado e há previsão de ciclone
Depois da água, será a vez de o vento preocupar os gaúchos. A meteorologia prevê que um ciclone extratropical atingirá o Estado entre a noite de amanhã e a madrugada de sexta-feira. Segundo os meteorologistas, esse ciclone não tem a força de um furacão, como o Katrina, cuja passagem pelos EUA causou vendavais de até 233 km/h esta semana. O fenômeno - que não pode ser confundido com um tornado - é comum no Rio Grande do Sul, mas poderá trazer ventos de até 100 km/h. Por isso, a Defesa Civil alerta para o risco de navegação. (ZH, 31/08)