Artigo: Limpeza orgânica de vazamento de petróleo
2005-08-31
Por Dália Acosta *
Um produto baseado em bactérias marinhas está sendo aplicado com êxito desde 1992 em Cuba para limpar vazamentos de petróleo e seus derivados no mar, na água doce e em solos contaminados. O Bioil-FC se mostrou eficaz para transformar compostos tóxicos de hidrocarbonos em substâncias biodegradáveis, até sua conversão completa em dióxido de carbono e água. Este bioproduto tem baixo custo e suas aplicações nessa ilha do Caribe apresentam altos índices de eficácia em curto tempo, em comparação com experiências internacionais para o tratamento de vazamentos de hidrocarbonos.
— Conseguimos mais de 90% de limpeza em um máximo de 30 dias de aplicação -, disse ao Terramérica o engenheiro químico Roberto Núñez, diretor do Centro de Biopreparados Marinhos (Cebimar). Em vazamentos de petróleo e derivados, fontes especializadas de diferentes países consideram satisfatória uma limpeza biológica de 55%, em um período de três a quatro meses.
A limpeza biológica é um método de saneamento ambiental, feito através de microorganismos que degradam lixos orgânicos e perigosos e os transformam em compostos menos prejudiciais.
Esta técnica, conhecida há 25 anos, explora a capacidade de algumas bactérias, leveduras e fungos para incorporar parte dos compostos perigosos em seu metabolismo, com fins de crescimento ou obtenção de energia. O Instituto de Oceanologia de Cuba iniciou há mais de 10 anos a coleta de bactérias marinhas de mais de 400 cepas.
— 70% são capazes de degradar o petróleo e cinco delas são muito eficazes -, disse Núñez. O Bioil-FC, formado por estas cinco cepas, foi testado no tratamento de um vazamento de 500 toneladas de petróleo cubano, provocado em 1998 pela colisão de dois navios na baía de Matanzas, a 98 quilômetros de Havana.
Segundo o Cebimar, o ecossistema foi totalmente recuperado cerca de 30 dias depois da aplicação de cem mil litros de Bioil-FC. A baía foi saneada e também a praia Los Pinos, área de banho da população.
— Cuba está rodeada de mar e sempre em risco de contaminação por vazamento de petróleo -, comentou Núñez. Aproximadamente cinco milhões de barris de combustível são movimentados diariamente pelo Mar do Caribe em navios-tanque. Na região caribenha se registra um dos tráfegos marítimos mais intensos do mundo, com média de 50 mil embarcações por ano.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnud), o derrame de petróleo por parte de petroleiros e navios de cruzeiro está entre as ameaças mais graves para os países pobres do Caribe. A biolimpeza costuma ser aplicada como tratamento secundário depois da retirada mecânica do material derramado, através de diferentes equipamentos.
Esta primeira fase pode garantir a recuperação de até 60% do óleo. Uma prova de fogo para o Cebimar foi o tratamento em 2002 de um vazamento de 200 toneladas de petróleo em uma praia e um estuário de mangue na Enseada de Arroyo Blanco, na província de Holguín.
Os especialistas chegaram ao local dois meses depois do acidente. O petróleo estava impregnado no mangue e mostrava um índice de sedimentação de 70%, afetando seis hectares de mangue e quatro quilômetros de praia.
— Nunca antes havíamos usado microorganismos sem antes realizar uma retirada da maior parte do óleo. Esta foi a primeira vez em Cuba, e os resultados começaram a ser observados 48 horas depois de iniciado o trabalho -, contou Núñez. Um estudo científico sobre esse caso assegura que os resultados permitiram deixar no ponto uma nova tecnologia aplicável a qualquer tipo de vazamento de hidrocarbonos nestas latitudes tropicais.
De acordo com o informe, as características geomorfológicas da região tratada generalizam o resultado para qualquer tipo de ecossistema costeiro em condições climatológicas semelhantes às de Cuba.
— A única limitação do Bioil-FC é que atua somente a uma temperatura superior a cinco graus. A eficiência máxima é obtida entre 25 e 35 graus. Em temperaturas mais baixas também age, mas de forma mais lenta -, afirmou Núñez.
A biolimpeza em climas de frio extremo, como o da Antártida, foi desenvolvida desde o início desta década por cientistas argentinos com flora bacteriana autóctone.
* A autora é correspondente da IPS. (Jornal do Meio Ambiente, 30/08)