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2005-08-31
O crescimento da demanda brasileira por energia elétrica até 2010 não precisaria ser suprido pelas hidrelétricas, responsáveis por 83% da eletricidade gerada no país. A necessidade pode ser atendida por uma matéria-prima que o Brasil possui em abundância: a cana-de-açúcar. Com o incentivo adequado, as usinas de cana podem gerar, até 2012, o equivalente a duas hidrelétricas de Itaipu. Para isso é preciso, no entanto, que sejam criadas políticas adequadas para estimular essa tecnologia.

A avaliação é do pesquisador Suleiman José Hassuani, do Centro de Tecnologia Canavieira, um dos coordenadores de um projeto do PNUD realizado em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia e com o GEF (Fundo para o Meio Ambiente Mundial).

As usinas de cana já são capazes de gerar energia elétrica para consumo próprio. Para produzir o açúcar e o álcool, elas utilizam o caldo da planta, extraído quando ela é moída. As sobras desse processo de esmagamento são fibras, o bagaço da cana. Para gerar energia, o bagaço é aquecido dentro de caldeiras. Parte desse processo resulta em energia mecânica e vai movimentar as máquinas das usinas, como as moendas.

Outra parte transforma-se em energia em forma de vapor e é usada em outros equipamentos. Por fim, o restante vira eletricidade e é usado para iluminação e para fazer funcionar todos os aparelhos elétricos da fábrica, como ventiladores — tornando a usina independente da rede de fornecimento de energia elétrica.

Esse sistema utiliza caldeiras consideradas de baixa pressão, que possuem por volta de 22 bar (medida de pressão). Segundo Hassuani, se essas caldeiras de baixa pressão fossem trocadas por caldeira de alta pressão, de 65 bar, a eficiência do processo seria consideravelmente maior.

— Com o sistema de alta pressão você utiliza a mesma quantidade de bagaço de cana e gera muito mais energia -, explica Hassuani. Usinas de cana-de-açúcar criadas nos últimos anos escolheram utilizar caldeiras desse tipo e hoje são capazes de ajudar no fornecimento de energia de cidades vizinhas, segundo ele.

As unidades produtoras mais antigas, porém, usam caldeiras de baixa pressão, e trocá-las pode ser um investimento caro demais.

— As usinas só vão fazer isso quando o valor pago por quilowatt gerado compensar a compra do equipamento. Senão, elas não têm nada a ganhar -, afirma o coordenador do projeto.

Para haver a substituição das caldeiras, Hassuani defende políticas de incentivo ao uso dessa tecnologia. O potencial, segundo ele, compensa. A usina de Itaipu, atualmente a maior hidrelétrica do mundo em termos de capacidade de geração de energia produz entre 50 milhões e 55 milhões de megawatts/hora por ano (em 2009, Itaipu será superada pela hidrelétrica chinesa de Três Gargantas).

De acordo com o pesquisador, se todas as usinas de cana-de-açúcar do país investissem em sistemas de alta pressão seria possível gerar até 2012 cerca de 100 milhões de megawatts/hora ao ano — o dobro de Itaipu. Hoje, o Brasil produz 3 milhões de megawatts/hora com cana-de-açúcar.

Hassuani vai mostrar essas conclusões no seminário Alternativas Energéticas a partir da Cana-de-Açúcar, que apresentará os resultados do projeto Geração de Energia Elétrica por Biomassa, Bagaço de Cana-de-Açúcar e Resíduos. O evento ocorre em Piracicaba, interior de São Paulo, em 31 de agosto e 1º de setembro. (PNUD Brasil, 30/08)

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