Axanincas do Acre se armam para combater madeireiros peruanos
2005-08-31
Uma milícia armada está sendo treinada neste momento por líderes da etnia indígena axaninca em terras do Peru. Cerca de cem homens das comunidades indígenas Sawawo e Nueva Shawaya, na fronteira peruana com o Acre, já estão armados e prontos para a guerra. Os inimigos são madeireiros peruanos que invadem terras brasileiras para traficar madeiras nobres.
As autoridades acreanas temem que mais axanincas brasileiros sejam requisitados da terra indígena do Rio Amônia, próximo a Cruzeiro do Sul, desde que o secretário de Meio Ambiente de Marechal Thaumaturgo, o axaninca Benki Piyanko, ganhador do Prêmio Nacional de Direitos Humanos em 2004, reuniu-se com os axanincas nas comunidades nativas peruanas. Ele não gostou do que viu.
— Encontrei nosso povo axaninca todo armado e partindo para guerra contra esses invasores. Havia cem guerreiros do exército axaninca armado e partindo para o confronto com estes invasores que estão em sua terra -, disse, numa carta endereçada à Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
O documento foi obtido também pela Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas (Sepi), que, como o próprio Benki Piyanko, afasta o risco de participação de acreanos no conflito iminente. Os peruanos são os principais responsáveis pelo desmatamento ilegal numa extensa área que alcança terras indígenas na Bolívia, no Peru e no oeste acreano.
No Brasil, o Plano Nacional de Combate ao Desmatamento, lançado em 2003 pelo governo federal, impediu a criação de uma milícia parecida, mas, mesmo assim, vários conflitos pontuais são registrados. Uma brigada do Exército brasileiro, que funciona próximo à terra indígena do Rio Amônia, e operações pontuais do Ibama e do Imac ajudaram a diminuir o ritmo dos crimes ambientais.
Governo nega risco
O secretário estadual dos Povos Indígenas, Francisco Pinhanta, que também é axaninca, disse à reportagem que não há o risco de uma guerra com os madeireiros peruanos envolvendo indígenas do Acre. Segundo ele, o problema é exclusivo da Amazônia peruana, onde o governo ainda não criou um mecanismo para deter o avanço ilegal das madeireiras.
— Houve alguns confrontos, mas desde 1999 os axaninca acreanos vêm denunciando a situação do lado de cá. O resultado é que várias madeireiras foram fechadas, alguns peruanos foram presos e o governo brasileiro continua fazendo a vigilância com o Plano Nacional de Combate ao Desmatamento. O nosso governo está bem presente ao contrário do que ocorre no Peru -, disse Pinhanta.
Segundo o secretário, o governo acreano criou um grupo de trabalho com várias instituições brasileiras e peruanas para discutir o problema e propor políticas públicas em ambos os países para frear a devastação. A próxima reunião do grupo de trabalho será no dia 15 de setembro com a presença de representantes de 20 terras indígenas do Peru, além de autoridades dos dois países. (A Tribuna – Acre, 30/08)