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2005-08-31
Por Ingrid Holsbach
Universidade Pés Descalsos (Barefoot College). Assim chama-se o projeto do indiano Bunker Sanji Roy, nascido e criado na capital Nova Déli. Integrante de uma minoria privilegiada economicamente, Roy estudou nas melhores escolas e concluiu a graduação em língua inglesa em uma das Universidades mais caras de seu país, conhecida por formar autoridades governamentais. Logo depois de concluir a faculdade, em 1971, Roy decidiu conhecer uma das vilas mais pobres da Índia, localizada em Tilona. Ao entrar em contato com essa realidade, percebeu que deveria fazer alguma coisa para mudar a vida daquelas pessoas.

A Universidade criada em 1972 por Roy é totalmente diferente de qualquer outra instituição de ensino. Para fazer parte dela um dos requisitos é ser semi-analfabeto ou analfabeto, pobre, morar em povoados isolados desprovidos de qualquer estrutura e, acima de tudo, os habitantes têm que ter vontade de permanecer no local. Isso porque Roy acredita que essas pessoas também têm algo a ensinar e a solução para os seus problemas tem que partir delas mesmas, afinal são estas que melhor conhecem a sua realidade.

— A minha educação começou quando morei com essas pessoas. Elas têm muito saber e habilidade que nenhuma escola é capaz de ensinar. O analfabetismo não é uma barreira – afirma Roy. Foi com essa mentalidade que Roy, juntamente com essas comunidades, começou a descobrir soluções para os maiores problemas locais: a escassez de água e a falta de energia elétrica. A solução encontrada - energia solar e captação de água da chuva - é aplicada pelos próprios integrantes destas comunidades.

Atualmente, na Índia, cerca de 400 crianças estudam em 250 escolas que funcionam no turno da noite graças ao abastecimento com energia solar. – Isso vai de acordo com a realidade deles, porque durante o dia essas crianças trabalham no meio rural e à noite vão para a escola. E estas escolas são geridas pelas próprias crianças – conta Roy.

A tecnologia consiste em painéis solares com capacidade de geração de 30 megawatts. A eletricidade é absorvida do sol através das placas, que ligadas a uma bateria geram energia. Hoje 300 vilas, que abrangem 6000 quilômetros no norte da Índia, passando pelo Nepal, são abastecidas por este sistema. A estrutura é montada pelos próprios habitantes que compram o material através de subsídios do governo e de outras organizações, como as Nações Unidas e a Comunidade Européia. A tecnologia foi comprada por uma empresa da Índia e a manutenção do sistema é feita pelos próprios moradores.

Para a escassez da água, a alternativa encontrada foi a construção de tanques coletores com capacidade de 100 mil litros, onde a água da chuva é captada e tratada com tabletes de cloro. Antes da construção dos tanques, as pessoas tinham que caminhar cerca de cinco ou seis quilômetros para bombear manualmente a água de poços artesianos. Em 1971, quando Roy chegou à Tilona o nível do reservatório de água potável estava em 15 metros devido ao uso excessivo para irrigação e criação de gado. Hoje o nível atingiu os 100 metros devido à captação pluvial. – Só com a captação pluvial pode-se obter 15 milhões de litros da água-, afirma Roy.

Todo esse conhecimento é passado pelos próprios integrantes das comunidades e quem ensina não ganha mais que US$ 60 dólares por mês. Atualmente existem 20 universidades em 13 estados da Índia, chegando a beneficiar 1 milhão de pessoas. Para implantar o sistema, basta apenas existir uma comunidade pobre e rural. A capacitação é feita com as crianças. — Essas comunidades têm um saber para encontrar a solução para os seus problemas. As pessoas é que ensinam os engenheiros –, conclui o indiano.

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