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2005-08-31
As feiras internacionais de alimentos orgânicos Biofach América, de Washington, e Biofach Japão, de Tóquio, vão abrir espaço para uma nova marca brasileira, o selo Organic Brazil. Ele será usado em mercadorias de 15 produtores reunidos pela Apex-Brasil (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos). A estréia será em setembro, mês em que ocorrem os dois eventos.

Criado em parceria com o IPD (Instituto Paraná de Desenvolvimento) e a Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), o selo vai funcionar como um estimulador da aquisição de produtos brasileiros pelos consumidores estrangeiros e, em conseqüência, do incremento da exportação. Mas não é um certificador de mercadorias produzidas sem o uso de agrotóxicos e com preservação ambiental.

— Estamos de olho em um mercado que movimenta US$ 25 bilhões e cresce 25% ao ano -, diz o administrador do projeto na Fiep, Ming Chao Liu.

A certificação que garante a produção dentro das normas aos alimentos orgânicos no Brasil é feita por sete empresas credenciadas.

— Nós entramos com o marketing e vamos criar uma estrutura organizada para a exposição nas feiras.

Filé de tilápia, café, erva-mate, açúcar mascavo, leite, banana, soja e mais de uma dezena de alimentos produzidos sem veneno nem modificação genética integram a lista das primeiras mercadorias que devem receber o selo Organic Brazil.

Potencial de crescimento
Na maioria, os produtores orgânicos do grupo já exportam, mas têm potencial para crescer. É o caso da Oitavo Mar Pescados S.A., que há oito meses exporta dez toneladas por mês de tilápia cultivada em tanques de piscicultura em Marechal Cândido Rondon, oeste do Paraná.

Outro exemplo é o da Tribal Brasil, empresa resultante de três comunidades dedicadas à atividade extrativista no Paraná e no Rio Grande do Sul e que exporta erva-mate há cinco anos. A fazenda Fortaleza, de Mococa (SP), vai adotar o selo, mas já vende no exterior café, leite e banana.

Liu diz que o selo nasceu da proposta de criação de um selo da produção de orgânicos no Paraná. A Apex estimulou a abertura do leque e a participação nas feiras internacionais, canais naturais de divulgação do setor.

Não há estatísticas seguras do peso dos orgânicos na balança comercial. É o único setor da cadeia de exportação que não dispõe de um código NCM (Nomenclatura de Comércio do Mercosul). Hoje, o que sai do país para ganhar consumidores seletivos lá fora é incluído em grupos de produtos tradicionais.

— Mas não conheço nenhum outro produto brasileiro que cresça à margem de 25% ao ano -, diz o gerente de exportação da Oitavo Mar Pescados, Dalmer Vinicius Maffei. O Ministério da Agricultura está começando o trabalho de regulamentação da produção de orgânicos no Brasil.

Empresa vende tilápias para os Estados Unidos
Os tanques de peixes que ficaram assoreando (obstruídos, por areia ou por quaisquer sedimentos) por mais de uma década no interior do Paraná começam a receber vida nova estimulada por consumidores dos Estados Unidos.

Uma empresa com experiência na produção de cereais orgânicos há 13 anos no Brasil analisou o mercado e resolveu direcionar sua produção para agregar valor na criação de tilápias. Hoje, a Oitavo Mar Pescados S.A., que faz parte do grupo que criou o Organic Brazil, coloca todo mês, no mercado americano, dez toneladas de filés desse peixe, mas tem potencial para chegar a 80 toneladas.

Há oito meses, a Oitavo Mar compete com produtores chineses, liberando carregamentos para os Estados Unidos. O faturamento até agora já representou R$ 5 milhões e o lucro gira em torno de 30% a 40%.

Esse resultado começa a ser usufruído também por 23 agricultores que a empresa -uma joint-venture com parte do capital americano- transformou em integrados, todos da região de Marechal Cândido Rondon (no oeste do PR), onde a empresa tem um frigorífico. Dos integrados, 15 já estão produzindo tilápias nos tanques que abriram no passado, estimulados por programa de governo que não prosperou, e 8 estão preparando tanques para receber alevinos (filhotes).

O gerente de exportação da Oitavo Mar, Dalmer Vinicius Maffei, diz que a mudança de foco na produção dos orgânicos decorreu de uma prospeção do mercado externo. Hoje, praticamente tudo o que a empresa cultiva ela investe em valor agregado para mandar para fora a proteína animal acabada. Nos criatórios, de 50% a 60% da engorda dos peixes vem dos nutrientes encontrados no próprio tanque. Os cereais orgânicos e a vitamina fazem a suplementação alimentar.

Para garantir bom retorno, a criação desse peixe exige a mudança induzida de sexo das tilápias fêmeas (normalmente 60% do cardume) para que ganhem peso. Induzida com o uso de químicos na produção convencional, a sexagem (inversão sexual) na produção orgânica é um procedimento manual, feito por funcionário treinado. (Folha de S.Paulo, 30/08)

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