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2005-08-30
Embora 70% da superfície da Terra seja coberta de água, menos de 1% desses recursos estão disponíveis para consumo humano. E ainda que essa parcela seja suficiente para suprir as necessidades de toda a população do planeta, o que preocupa muitos pesquisadores é a possibilidade de que, se mal geridos, esses recursos se esgotem um dia. Um estudo realizado pela Unesco no ano de 2003, calcula que, em 20 anos, as reservas de água devem diminuir em um terço.

Para discutir maneiras mais eficientes e sustentáveis de gerenciamento da água, o Senac - São Paulo realiza nesta segunda-feira a primeira Conferência Internacional de Governança e Sustentabilidade: 2005 - A Questão da Água.

— Precisamos pensar em soluções sistêmicas, que envolvam empresas privadas, sociedade civil organizada, acadêmicos e poder público -, disse o gerente de desenvolvimento do Senac, Cláudio Silva.

A conferência é a primeira de uma série na área de governança e sustentabilidade que a instituição realizará a cada dois anos.

— A escolha do tema da água foi devido a urgência do assunto e da importância que ela tem para todo o planeta -, explicou Silva.

O evento reunirá palestrantes de diferentes países para relatar suas experiências. O canadense Normand Brunet, coordenador do Instituto de Ciências do Meio Ambiente, da Universidade de Quebec, fará uma comparação entre a realidade do Estado de São Paulo e a província de Quebec.

O pesquisador fez doutorado sobre ecossistemas urbanos e fluxo de informação, comparando as problemáticas ambientais de Montreal, no Canadá, com a cidade de Santos, litoral sul do Estado de São Paulo.

Estado - Quais as principais diferenças entre o Brasil e o Canadá em relação ao gerenciamento de água?

Brunet - O Brasil têm problemas muito mais sérios que o Canadá, como a falta de acesso a água tratada por grande parte da população, a pobreza e a ocupação irregular dos mananciais. Em Quebec, não há problemas de moradia e todos têm água tratada e rede de esgoto. Porém, a população não tem consciência da importância da água e o consumo per capita é muito grande. Nossos problemas ambientais mais sérios estão ligados aos transportes, como a poluição da atmosfera e sonora.

Estado - Os brasileiros também não valorizam a água?

Brunet - O fato de se pagar taxas já ajuda na conscientização. No Canadá, as pessoas geralmente menosprezam as águas das torneiras pois acreditam que é contaminada ou poluída. O que não é real, é de mesma qualidade que as de garrafa. Na verdade, o que acontece é que as empresas retiram as águas subterrâneas por um preço irrisório e revendem por um valor 100 vezes maior. Isso sem pensar em programas de sustentabilidade e tratamentos. Os Estados Unidos por exemplo consomem mais água do que podem e agora querem importá-la do Canadá.

Estado - O senhor se preocupa com a privatização dos recursos hídricos?

Brunet - Há um problema sério nesta relação. Temos que entender que a água é um bem universal e não só de algumas empresas. Isso deve ser assim, em qualquer lugar do mundo.

Estado - Como está o processo de gerenciamento da água no Brasil ?

Brunet - O Brasil está 10 anos a frente de Quebec na questão de implantação de comitês de bacias, que estudam ações para melhorar os rios. Na província, os comitês começaram a ser implantados em 2003 e com base na experiência brasileira. Somente no Rio São Lourenço esse processo começou antes. E o governo teve que ter pulso firma para reduzir a poluição por parte das empresas. O que falta um pouco no Brasil é esta participação mais intensa do poder público.

Estado - Existe alguma pretensão de manter o intercâmbio de experiências entre os dois países?

Brunet - Sim. Em março já realizamos um seminário na Universidade sobre a realidade brasileira. Agora queremos trazer palestrantes canadenses para falar com os pesquisadores daqui.. A Universidade também tem a intenção de implementar um projeto de cidade sustentável em Salvador. (O Estado de S. Paulo, 29/08)

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