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emissões de co2
2005-08-30
A luta contra o aquecimento global está prestes a ganhar o reforço de uma dupla inusitada: o médico Geraldo Alckmin e o ex-Exterminador do Futuro, Arnold Schwarzenegger. Os governadores de São Paulo e da Califórnia estão articulando os detalhes finais de uma parceria para a redução das emissões de gases do efeito estufa nos dois Estados. O acordo prevê a troca de experiências e tecnologias direcionadas ao controle das mudanças climáticas e da poluição urbana.

— Acho que podemos aprender muito um com o outro -, disse ao Estado o secretário de Meio Ambiente da Califórnia, Alan Lloyd, que esteve em São Paulo anteontem para uma reunião com o governador Alckmin e com seu colega de pasta, José Goldemberg.

Em um desafio à política internacional do presidente George W. Bush, o governador Schwarzenegger baixou recentemente uma ordem executiva que exige a redução gradativa das emissões de gases do efeito estufa na Califórnia nos próximos 50 anos. Inicialmente, até 2010, as emissões deverão ser reduzidas ao nível de 2000. Em mais dez anos, deverão cair ao nível de 1990. E por fim, até 2050, deverão corresponder, obrigatoriamente, a 80% menos do que era emitido em 1990.

— São metas agressivas, mas viáveis. O governador Schwarzenegger acredita firmemente que é possível manter uma economia robusta e proteger o meio ambiente ao mesmo tempo -, defendeu Lloyd.

O eleitorado, aparentemente, concorda: — Cerca de 80% da população da Califórnia acredita que o aquecimento global é um problema real e que algo precisa ser feito a respeito disso. O apoio é enorme -, garante o secretário.

A proposta da parceria com São Paulo surgiu no fim de julho, quando Alckmin escreveu uma carta ao colega californiano elogiando a assinatura da ordem executiva.

— O Estado de São Paulo, no Brasil, está também adotando políticas que visam à redução das emissões de gases do efeito estufa sem prejuízo para o crescimento e o desenvolvimento econômico, apesar de não estar formalmente obrigado a isso pelo Protocolo de Kyoto. Espero que estejamos em condições de considerar um acordo cooperativo num futuro próximo, com base nessas políticas e interesses mútuos -, escreveu o governador.

— São dois Estados que estão na vanguarda de seus países. Queremos saber como eles fazem algumas coisas por lá, para implementá-las aqui também -, disse Goldemberg.

Do ponto de vista global, a iniciativa da Califórnia pode parecer um esforço inútil diante da recusa dos Estados Unidos em participar do Protocolo de Kyoto. Mas não é. Com mais 35 milhões de habitantes e 24 milhões de veículos, o golden state carrega um peso ambiental e econômico maior do que muitos países: é, sozinho, a sexta maior economia do mundo e o décimo maior emissor de gases do efeito estufa na atmosfera.

Em 2002, emitiu 493 milhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono (CO2), ou cerca de um terço das emissões totais do Brasil no mesmo período.

— Achamos que podemos dar uma contribuição importante no combate ao aquecimento global. Não sozinhos, mas em parceria com outros Estados – afirma Lloyd.

A iniciativa já está virando moda nos Estados Unidos. Mais de dez outros Estados, além da Califórnia, estão considerando a adoção de metas internas de combate ao aquecimento global. Nove deles na costa leste, incluindo o Estado de Nova York, já chegaram a um acordo preliminar para reduzir as emissões de suas termoelétricas em 10% nos próximos 15 anos, segundo reportagem do jornal The New York Times.

Goldemberg também não descarta a adoção de metas para o Estado de São Paulo no futuro.

— A Califórnia fez um inventário de emissões indústria por indústria. E, quando você fixa metas de redução, acaba criando um mercado de trocas. Queremos saber como eles fazem isso -, disse o secretário paulista.

Apesar de não dispor de um inventário próprio, ele garante que as emissões do Estado estão em queda, principalmente em razão da recuperação da cobertura florestal (que absorve gás carbônico da atmosfera) e pela regulamentação das emissões de poluentes (que impacta também as emissões de gases do efeito estufa).

Lloyd disse que espera aprender com a experiência paulista no uso de energias renováveis, principalmente o etanol. A maior fonte de emissões de CO2 em ambos os Estados é a queima de combustíveis fósseis (gasolina e diesel) no setor de transportes. A Califórnia, por sua vez, também está investindo pesado em incentivos para o desenvolvimento da energia solar e eólica. Um projeto, por exemplo, tem como meta instalar painéis solares em 1 milhão de casas do Estado até 2010.

Tecnologia
O Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor no início deste ano, exige que os países mais desenvolvidos reduzam suas emissões de gases do efeito estufa em aproximadamente 5% até 2012, com base nas emissões de 1990. Os EUA, responsáveis por mais de 35% das emissões de CO2 entre os países industrializados, estão fora do acordo por acreditar que ele é prejudicial para a economia e injusto, por não impor metas de redução também aos países em desenvolvimento, como o Brasil.

Essa, pelo menos, tem sido a posição oficial do presidente Bush. Ele propõe como alternativa o investimento em novas tecnologias, capazes de reduzir as emissões sem prejudicar o crescimento econômico.

Os californianos, por outro lado, apostam numa combinação de desenvolvimento tecnológico e metas compulsórias de redução.

— Você não pode simplesmente depender da tecnologia sem estabelecer alguma meta de onde você quer chegar -, explica Lloyd.

A obrigatoriedade da redução, segundo ele, deve servir como incentivo para o desenvolvimento tecnológico, tanto nas indústrias quanto nas universidades - duas coisas que a Califórnia tem de sobra.

— Não acho que vamos prejudicar a economia; pelo contrário. A Califórnia é um lugar incrível para a inovação; é uma oportunidade para nos superarmos - disse o secretário. (O Estado de S. Paulo, 29/08)

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