Há um placar ao lado do Tiananmen Square, em Pequim, que conta o tempo que falta para as Olimpíadas de Verão de 2008. Cada dia parece precioso: a capital chinesa deve renovar 72 estádios esportivos e unidades de treinamento, asfaltar 59 novas estradas e completar três pontes até a abertura da cerimônia.

Trata-se de uma tarefa que mobilizará a maioria das cidades chinesas, mas Pequim está levando tão a sério o trabalho que o Comitê Olímpico Internacional solicitou que fosse dado um ritmo mais lento aos mesmos. Mas o mais difícil será a capital chinesa preencher a promessa de ter Olimpíadas verdes, fazendo de seu espaço urbano um local agradável para uma vida saudável.– É um novo tipo de conceito para nós-, disse Huang Yan, diretora da Comissão de Planejamento, ao anunciar o plano principal em abril deste ano. –Nunca antes pensamos nisto-, acrescentou.

Para os 15,2 milhões de habitantes de Pequim, o comentário parece não fazer muito sentido porque, por exemplo, o número de carros rodando mais do que dobrou em apenas seis anos. A qualidade do ar, após anos de uma melhoria firme, ficou pior em algumas categorias, ao mesmo tempo em que Pequim continua nos primeiros lugares entre as cidades com pior qualidade do ar no mundo. Para o prefeito da cidade, Wang Qishan, os principais problemas ambientais apontados pela população são lixo, esgoto, banheiros públicos e trânsito. – A cidade tem milhares de banheiros velhos e fétidos que estão sendo substituídos-, anunciou.

–Para onde quer que olhemos, parece haver problemas, afirma o jornal oficial do governo China Daily. É incerto se Pequim irá teoricamente conseguir com que as condições de vida sejam melhoradas até as Olimpíadas. Os críticos estão céticos. Eles atribuem a falhas prévias no planejamento de políticas públicas a destruição de características importantes da cidade antiga, tornando-a confusa e ruim para se viver. –Os maus planejamentos ao longo das décadas passadas já se tornaram ponto de embaraço para a cidade, disse Wang Jun, escritor que está lançando A História de uma Cidade, sobre Pequim. O livro documenta a demolição de muitas das velhas cidades.

Segundo Wang, Pequim jamais se recuperou da arquitetura dos anos 50, quando Liang Sicheng, o mais eminente arquiteto do país, advertiu que a destruição dos prédios clássicos poderia levar aos engarrafamentos e à poluição e conclamou para que o líder Mao-TséTung preservasse com urgência as muralhas no entorno da cidade. Ao invés disto, Mao os demoliu por considerá-los símbolos do feudalismo chinês. –Agora vemos que nossas previsões estavam corretas, afirmou Wang.

A urbanização crescente é outro problema para a China. Espera-se que as migrações do campo para a cidade aumentem, fazendo Pequim inchar com mais 300 milhões de pessoas nos próximos 15 anos. A expectativa é de que a população supere 21 milhões de habitantes até 2020, caso continue a atual taxa de crescimento. (com informações do NY Times, 28/8)