Mundo ficou mais rico e mais desigual nos últimos 40 anos, aponta relatório da ONU
2005-08-30
O mundo está mais rico e mais desigual. Apesar de algumas regiões do mundo terem registrado um crescimento econômico sem precedentes nos últimos 40 anos, a desigualdade entre os ricos e pobres é maior hoje, indica o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) Situação Social Mundial 2005 – o problema da desigualdade, divulgado dia 25/08.
O relatório mostra que nas últimas quatro décadas, os 20 países mais ricos quase triplicaram sua a renda per capita – que é a média de quanto cada habitante ganha. O valor passou de US$ 11.417 em 1962 para US$ 32.339 em 2002, o que representa um avanço de 183,25% em 40 anos. Por outro lado, nos 20 países mais pobres do mundo o rendimento subiu apenas 26%, passando de US$ 212 em 1962 para US$267 em 2002. Com isso, segundo o documento, 80% da renda mundial está nas mãos de apenas 1 bilhão de pessoas – menos de um quarto da população mundial.
Diferença salarial também aumentou em muitos países
O relatório da ONU afirma que a diferença salarial entre os trabalhadores capacitados e os que não têm nenhuma formação aumentou em muitos países. Como exemplo, cita a China a Índia, dois países que, apesar de apresentarem crescimento econômico, aumentaram a diferença salarial entre seus trabalhadores.
O caso da China é emblemático: o país reduziu a pobreza em termos absolutos de 634 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1 por dia em 1981 para 212 milhões em 2001. Mas, ao analisar o setor rural do país, o relatório encontrou um aumento da disparidade entre ricos e pobres. Há dez anos, os 10% da população rural mais rica tinham o dobro da renda da população mais pobres. Hoje, a diferença é de 250%.
De acordo com o relatório, o problema não é exclusivo dos países em desenvolvimento. Como exemplo de países industrializados, o documento afirma que também ocorrem grandes diferenças salariais nos Estados Unidos (EUA), no Reino Unido e no Canadá. No caso dos EUA, 1% dos mais ricos do país detém 17% de toda a renda nacional.
O relatório especifica ainda que a desigualdade de renda também é refletida nos hábitos de consumo. Segundo a ONU, os 20% mais ricos do mundo detêm 74% das linhas telefônicas e consomem 45% de toda a carne e peixe do mundo. Já os 20% com menor renda possuem 1,5% das linhas telefônicas e consomem apenas 5% dos peixes e carnes.
Redução da desigualdade deve ser incluída entre as Metas do Milênio, diz secretário-adjunto
O secretário-geral adjunto para Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, José Luiz Ocampo, acredita que os dados apresentados no relatório indicam que é preciso incluir a meta de reduzir as desigualdades nas Metas do Milênio. As metas são um conjunto de objetivos comuns que os 189 países membros da ONU se comprometeram a cumprir até 2015.
— Com o prazo de 2015 para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, este é o momento certo para incorporar a meta de reduzir a desigualdade em nossas estratégias para promover o desenvolvimento, a segurança e os direitos humanos para todos -, reconheceu o secretário ao divulgar o relatório.
O relatório da ONU criticou o fato de as Metas do Milênio terem como foco apenas o combate à pobres, e sequer fazerem menção ao problema da desigualdade entre os países. Mas alguns pontos que constam nos objetivos a serem alcançados até 2015, como saúde e educação, foram analisados pelo relatório.
Em relação à saúde da população, também há desigualdade, diz o relatório. O problema ocorre especialmente nos países da África e em certas regiões da Ásia. Nesses países, a expectativa de vida é fortemente influenciada por problemas como a aids, a falta de acesso a vacinas, a falta de cuidado com as crianças e as mães e a educação.
A violência é um outro fator de desintegração do tecido social e de exclusão, aponta o relatório. Especialmente quando se trata de lutas políticas por poder, terras e recursos, enfatiza o texto, que também denuncia que os povos indígenas, os incapacitados, idosos e os jovens são impedidos de participar da tomada de decisões que afetam a sua qualidade de vida e têm, na maioria das vezes, negados os seus direitos básicos. (Radiobras, 27/08)