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2005-08-30
A eminência parda por trás da boa notícia sobre a queda do desmatamento na Amazônia é uma ONG, o Instituto do Homem e do Meio Ambiente Amazônico (www.imazon.org.br). Da casinha num condomínio em bairro afastado de Belém onde o Imazon funciona foi que partiu a aposta pioneira na possibilidade de obter mês a mês um dado que o governo federal divulgava só uma vez por ano, com grande atraso, até oito meses depois de encerrada a estação de derrubadas e queimadas na floresta.

Até há pouco, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe, encarregado do tradicional levantamento anual) criticava abertamente quem usava dados do Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real) para fazer estimativas. Argumentavam que ele havia sido desenvolvido para ter agilidade, pois seu objetivo era meramente apoiar ações mais rápidas de fiscalização do Ministério do Meio Ambiente (MMA), com sacrifício da precisão. Isso, claro, quando as imagens menos nítidas do Deter, baseadas no sensor de satélite Modis, indicavam seguidos aumentos nas taxas de derrubada da mata.

Agora que houve uma redução acentuada, aparentemente a miopia do Modis deixou de ser um problema. A boa notícia é que essa aceitação das projeções pelo MMA vem validar a metodologia desenvolvida pioneiramente pelo Imazon. Mais precisamente, pela equipe de Carlos Souza Jr., que chefia a área de sensoriamento remoto e geoprocessamento da organização não-governamental.

Essa metodologia se baseia numa comparação detalhista das áreas de desmatamento detectadas pelo Modis com aquelas enxergadas pelos sensores do satélite Landsat, muito mais sensíveis. O confronto revelou que o Modis deixa passar coisa de 20% dos desmatamentos. Como num período de 12 meses (prazo maior do que o utilizado pelo governo em sua estimativa) os dados obtidos pelo Deter somam 13.245 km2, o Imazon estima que a taxa real deva ficar entre 15.247 km2 e 16.570 km2. Na média arredondada, em torno de 16.000 km2.

É só uma estimativa preliminar, mas que estimativa. São pelo menos 10.000 km2 a menos que no período anterior (de agosto de 2003 a julho de 2004). Meio Sergipe. É tudo que o MMA e o governo Lula queriam ouvir.

O setor ambiental federal, incluindo o MMA e o Inpe, agora conta com a sua própria metodologia para projetar taxas de desmatamento com o Deter. Tudo indica que se deram conta do valor adicional da ferramenta que eles mesmos desenvolveram. Chegaram a uma margem de erro da ordem de 15%, ligeiramente menor que a do Imazon, mas isso pouco afeta a magnitude da redução na taxa.

Há um mês, quando o Imazon divulgou que o mês de junho de 2005 havia registrado uma queda de 95% no desmatamento em relação a junho de 2004, técnicos do Inpe chegaram a tratar a projeção como uma leviandade.

Nada como uma CPI depois da outra para pôr certas coisas em pratos limpos, neste país. (Folha de São Paulo, 27/08 - Marcelo Leite, colunista)

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