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2005-08-30
A falsa crença de que os ovos de tartaruga marinha têm poderes afrodisíacos põe em perigo, todos os anos, o processo reprodutivo de mais de um milhão de animais que chegam ao litoral do México para desovar. Mercados, barracas de rua e até restaurantes oferecem clandestinamente os ovos e a carne de tartaruga, cujo tráfico com fins comerciais é punido no México como crime grave desde 2002.

Os poderes atribuídos aos ovos de tartaruga são um falso mito urbano sem nenhuma base científica, segundo Luis Fueyo, diretor de Inspeção de Recursos Marítimos da Procuradoria Federal de Proteção Ambiental (Profepa). O consumo deste produto começou há mais de mil anos, quando fazia parte da dieta alimentar dos índios zapotecas e de outras etnias, que não atribuíam poderes extraordinários ao alimento, além dos meramente nutritivos.

No litoral mexicano estão contabilizadas 144 praias nas quais habitam seis espécies de tartarugas que, em um ritual ancestral, retornam todo ano ao mesmo lugar onde nasceram. Embora cada ninho possa ter mais de cem ovos, calcula-se que apenas uma em cada mil tartarugas que chegam à água alcançam a idade adulta.

As praias do estado de Oaxaca e de Guerrero, no Pacífico, recebem todo ano quase um milhão de tartarugas da espécie oliva, a mais comum no México e da qual procedem 90% dos ovos. Para conter a comercialização deste produto, o governo mexicano estabeleceu patrulhas nas principais praias, que são vigiadas por 500 homens da Profepa, da Agência de Investigação Federal, da Marinha e das polícias locais. Neste ano, diversos organismos civis, como o Wildcoast, o Fundo de Conservação da Natureza e o Wallace Research Foundation, lançaram uma polêmica campanha gráfica na qual uma bela modelo em atitude provocativa garante que seu homem não precisa de ovos de tartaruga. Segundo Fueyo, estes esforços, junto com o novo regulamento penal, já deram resultados, reduzindo o número de exemplares confiscados. Enquanto em 1998 foram interceptadas cargas que transportavam até 600 mil ovos de tartaruga, neste ano a quantidade confiscada não superou os 20 mil ovos.

A extração dos ovos e da carne das tartarugas teve sua etapa mais crítica entre 1940 e 1990, ano em que o número de tartarugas oliva no México caiu para cerca de 80 mil unidades. Embora tenha sido possível a recuperação desta espécie, outras como a tartaruga de couro, a de pente e a carey estão em sério risco de extinção. Das 80 mil tartarugas fêmeas de couro que desovavam no litoral mexicano em 1990, só foram contabilizadas 150 no ano passado, o que coloca a espécie à beira do desaparecimento. Junto com o tráfico dos ovos e da carne, Fueyo culpou as atuais artes de pesca com redes e com o sistema de palangre, que usa inúmeros anzóis, pela morte das tartarugas.

Recentemente, cerca de 60 tartarugas carey que tinham ficado presas em redes de pesca foram encontradas mortas nas praias do Estado de Campeche, no Golfo do México. Para evitar a extinção destas espécies, Luis Fueyo reivindicou um regulamento continental sobre as artes de pesca que permita também substituir os anzóis de gancho por outros redondos. (UOL, 29/8)

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