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2005-08-29
Anualmente, o País produz 12,6 bilhões de m3 em volume de água, mas só fatura o equivalente a 7,6 bilhões de m3 desse total, porque 4,9 bilhões de m3 são desperdiçados. Boa parte dessa água se perde entre as estações de tratamento e a torneira do consumidor final, por problemas do sistema de abastecimento brasileiro, como erros de medição, fraudes nos hidrômetros e ligações clandestinas (perdas aparentes); mas também por vazamentos, além de perdas operacionais (perdas reais ou físicas).

Segundo dados do Ministério das Cidades, em 2002 a média nacional das perdas de faturamento nos sistemas de abastecimento de água brasileiros situou-se no patamar dos 40%. Mas os níveis mais altos chegaram a alcançar a casa dos 70%, como no estado do Acre. Do total perdido anualmente, estima-se que 2,4 bilhões de m3 poderiam ser recuperados, sendo 1,2 bilhão entre perdas reais e o restante em perdas aparentes. Considerando a tarifa média de R$ 1,38 por metro cúbico de água, a redução das perdas, em benefícios totais, traria uma economia de R$ 2,3 bilhões aos cofres das empresas. Com o montante seria possível obter uma redução no custo de produção de R$ 676 milhões e um acréscimo de faturamento de R$ 1,6 bilhão por ano.

Além dos impactos negativos que essas perdas hídricas provocam nos custos operacionais, ampliando a necessidade de investimento em novas instalações de produção e tratamento, elas também causam danos à natureza (pelo aumento da demanda) e geram prejuízos à distribuição regional, principalmente para áreas do Nordeste, onde há escassez de recursos hídricos, e também do Sudeste, que concentra a maior parte da população.

A necessidade urgente de buscar soluções para conter essas perdas transformou o assunto no principal tema do seminário sobre Tecnologias Limpas, programado para ocorrer durante o 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. O evento, cujo tema central é Saneamento Ambiental no Brasil: Utopia ou Realidade, será promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), no período de 18 a 23 de setembro próximo, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Na linha de combate às perdas de água, iniciativas da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA) do Ministério das Cidades, como o Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA) e o Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS), têm se mostrado eficazes. As ações implementadas vêm contribuindo para a redução gradual do desperdício, que em 1995 estava no patamar dos 50% do faturamento total. Os resultados reforçam a importância de soluções como estas, que busquem a conservação e uso racional da água, inclusive por meio de mecanismos que estimulem a redução de perdas como condição de acesso aos recursos (FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço ou do Orçamento Geral da União&nbs! p; – OGU) para ações envolvendo o abastecimento de água, principalmente no tocante a expansão da oferta do sistema.

Outra vertente dos programas tem se voltado à priorizar atividades de capacitação para os prestadores de serviços de saneamento, através de cursos e seminários para gerentes e dirigentes de empresas de saneamento. Em 1999, O PNCDA realizou o 1º Curso de Combate ao Desperdício de Água para cerca de 50 participantes. Em 2003, ampliou sua atuação por meio da realização de cursos regionais nas cidades do Recife, São Paulo, Belém, Porto Alegre e Brasília. Desde 2004, a capacitação se inseriu no âmbito de parceria firmada entre o Ministério das Cidades/SNSA e o Ministério das Minas e Energia/Eletrobrás, que executa o Programa de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL). A intenção é trabalhar as questões da eficiência na gestão da água e da produção de energia elétrica de forma integrada nos cursos, que são operacionalizados pela ABES.

Medição
Para combater as perdas ou desperdícios é necessário, portanto, reduzir o volume de água não contabilizada, através de medidas que permitam reduzir as perdas reais e aparentes e mantê-las permanentemente em níveis adequados. Segundo coordenadora do PNCDA, Cláudia Monique Frank de Albuquerque, o nível de perdas nos sistemas de abastecimento brasileiros é muito elevado, mas não há controle de perdas por meio de medição. - Um dos graves problemas que permeiam esta situação é a ausência de uma cultura gerencial que valorize a medição. Não se pode gerenciar aquilo que não se mede- este é um velho chavão largamente aplicável à operação de sistemas de abastecimento de água no Brasil: via de regra, não medimos, não fazemos o balanço hídrico no sistema e subestimamos a importância da medição inventando informações com dados de placa de equipamentos e número de horas de funcionamento dos equipamentos (muitas vezes sem usar sequer um horímetro no quadro de comando dos equipamentos) -, explica.

De acordo com a coordenadora do PNCDA, para um efetivo controle das perdas, seria necessário manter uma política de macro e micromedição. Em nível macro, a medição compreende a avaliação dos volumes produzidos e dos volumes entregues a setores de abastecimento ou sub-regiões, em casos de sistemas de maior porte. A partir desses valores, seria possível controlar perdas por regiões individualizadas.

A micromedição, por sua vez, ocorre no ponto de abastecimento de um determinado usuário, verificando o volume de água consumido e que é registrado periodicamente por meio da indicação dos hidrômetros. Segundo Cláudia Monique, a ausência de micromedição é um dos principais indutores de perdas não físicas. - A experiência internacional e de algumas cidades brasileiras leva a concluir que o consumo em áreas com ligações não medidas fica limitado à capacidade de suprimento do sistema, pois o usu! ário não tem motivos para economizar água ou evitar desperdícios através da substituição de bóias ou torneiras defeituosas ou do reparo de vazamentos em tubulações -, conclui.

Perdas aparentes x perdas físicas
O índice de perda de faturamento mede a relação entre os volumes faturados e os disponibilizados para distribuição (em percentual). Ele agrega perdas reais ou físicas e perdas aparentes. No primeiro caso, o conceito refere-se a toda água que não chega aos consumidores, podendo ser classificadas em perdas por vazamento e perdas operacionais. Aquelas estão relacionadas ao rompimento em adutoras, subadutoras, redes, ramais e conexões, além de fissuras nas impermeabilizações de reservatórios.

Perdas ligadas diretamente à operação do sistema são chamadas de operacionais, como no caso de lavagem de filtros, descargas em hidrantes, limpezas e extravasamentos em reservatórios. Já as Perdas Aparentes referem-se a toda água que não é medida ou que não tenha o seu uso definido. Ocorrem quando não há faturamento devido a ligações clandestinas e/ou irregulares, fraudes nos hidrômetros, erros de microm! edição e macromedição, política tarifária, erro cadastral (desatualização do cadastro, inatividade em ligação ativa, ligação não cadastrada por descuido), erro de leitura, entre outros.

O que é a ABES
A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) é uma organização não-governamental que reúne profissionais e entidades públicas e privadas ligadas ao saneamento e ao meio ambiente. Fundada em 1966, como braço nacional da AIDIS (Asociación Interamericana de Ingeniería Sanitária y Ambiental), a instituição tem como principal objetivo contribuir, por meio do conhecimento de seus cerca de doze mil associados, para a melhoria da qualidade de vida da sociedade brasileira. Seus quadros incluem desde professores, estudantes, técnicos, firmas de consultoria, empresas construtoras, fabricantes de materiais e equipamentos a companhias estaduais de saneamento e controle ambiental, serviços municipais de água e esgoto, limpeza e drenagem. (Eco Agência, 26/08)

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