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2005-08-29
Uma ilha de 7,5 quilômetros de extensão, encravada na Lagoa dos Patos, distante uma hora de barco de Pelotas partindo da Colônia de Pescadores Z3, vive uma situação insólita em pleno século XXI. Isolada do mundo, na ilha vive uma viúva e dois filhos, sem energia elétrica, água potável e nenhum tipo de locomoção, que não seja fluvial. Cenário ideal para a primeira experiência, no Estado, de geração de eletricidade com hidrogênio em células a combustível. Em estudo há dois anos pelos pesquisadores da PUCRS e da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), o projeto é um piloto na área de energia alternativa. A meta é criar um minicentro de pesquisas na ilha, que passará a ser alimentado com energia do hidrogênio, através de um módulo importado para gerar 1 quilowatt.

- O ideal para uma casa pequena -, disse o coordenador do projeto, engenheiro eletricista do Departamento de Engenharia Elétrica da PUCRS, Vicente Mariano Canalli. A Ilha da Feitoria, que já teve dois mil habitantes, foi escolhida para experimentar o projeto em função de suas características. - As células a combustível (CaCs) geram energia limpa, não poluem o ambiente, necessitam de pouca manutenção e peças móveis -, definiu Canalli. Com as vantagens de distribuir a energia em geradores portáteis, alcançando locais de difícil acesso, já que dispensa linhas de transmissão e distribuição. A chegada da eletricidade na Ilha da Feitoria, que é patrimônio de Pelotas desde 1993, depende de testes que serão realizados no Laboratório de Uso de Hidrogênio, a ser construído na PUCRS. - É preciso testar antes todo o processo para aplicá-lo na ilha-, adiantou Canalli. O laboratório depende de cronograma da PUCRS, mas a construção do centro de pesquisas na ilha é quase uma realidade. - Já temos todo o material de construção à disposição para erguer o laboratório na Feitoria -, disse. Por se tratar de um tipo de energia com pouco uso, Canalli assegurou que mesmo depois de passar pelo teste na PUCRS, as CaCs ainda passarão por exames na Ilha da Feitoria. - Sua utilização é mais comum em veículos ou pequenos centros -, reforçou o professor da PUCRS. Ele explicou que as CaCs são dispositivos que utilizam o hidrogênio armazenado em cilindros, como fonte de energia. - A eletricidade é produzida pela combinação de hidrogênio e oxigênio-, afirmou o especialista.

Os primeiros anos de estudo motivaram o professor da PUCRS e os pesquisadores das Faculdades de Engenharia e Química a avançar nas pesquisas. Canalli afirmou que a Feitoria ganhará, também, uma estação de purificação de água de ozônio, uma vez que a água consumida pelos três moradores da Feitoria não é tratada. - Tudo isso está sendo feito com a intenção de mostrar alternativas futuras.

Parceria garante a realização da iniciativa
A geração de eletricidade com hidrogênio em células a combustível mereceu a parceria da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), que já aplicou R$ 300 mil na pesquisa. - A possibilidade de gerar energia onde não é possível pelos métodos conhecidos, e fornecer eletricidade para os habitantes da Ilha da Feitoria, chamou a nossa atenção -, confirmou o gerente do projeto pela CEEE, o engenheiro eletricista Paulo Renato Soares.

O engenheiro da CEEE lembrou que o projeto está na fase final de implantação, dependendo do teste no laboratório da PUCRS para levar todo o equipamento que irá fornecer a energia do hidrogênio para a ilha. - Se houver necessidade de renovar o projeto e, quem sabe, aportar mais recursos, isso pode ser feito, desde que seja dentro do mesmo tema-, alertou Soares. Conforme as normas da Aneel, as empresas são obrigadas a usar 1% da receita operacional líquida em pesquisa e desenvolvimento. - A aplicação desse projeto é fundamental, pois estaremos levando energia em local isolado-, admitiu. O engenheiro Carlos Eduardo Raposo, da CEEE, e mestrando da PUCRS, não tem dúvida de que o hidrogênio é a energia do futuro. Por isso, o grupo de mestrandos está trabalhando no desenvolvimento de uma membrana capaz de fabricar a célula a combustível.

A grande dificuldade na implantação do centro de estudos na Ilha da Feitoria e do abastecimento da casa de três moradores, na opinião de Raposo, é a total falta de logística do local. - O complicador agora é a obra civil propriamente dita na ilha, porque tudo terá que ser transportado de barco, o que torna pouco ágil o trabalho -, explicou o mestrando. Para a obra civil, a Prefeitura de Pelotas comprometeu-se, com a PUCRS e a CEEE, a ceder a mão-de-obra, o que, em princípio, facilitará a situação e garantirá a realização imediata da iniciativa. (CP, 28/08)

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