Nestlé de olho no Aqüífero Guarani
2005-08-29
A instalação de uma nova fábrica de alimentos da Nestlé é mantida em segredo no Rio Grande do Sul. O local onde abrigará a mais nova sede da multinacional suíça é uma aparente incógnita, se não fosse por outro motivo: a água. A disputa tem levado municípios das regiões Noroeste e Norte gaúcho a realizar caravanas de prefeitos e empresários para São Paulo, na esperança de ver o sonho do promissor negócio: o leite, derivados e cereais. A empresa deverá revelar o local, o valor do investimento, estimativa de empregos e produção até o dia 27 de agosto, data de início de uma das maiores feiras do agronegócio na América Latina, a Expointer, em Esteio.
O interesse da Nestlé por essas regiões é boato corriqueiro há pelo menos três anos e visa ampliar sua unidade no Estado, uma vez que a empresa tem uma indústria de rações chamada Purina, em Camaquã. De fato, as cidades com a melhor e maior bacia leiteira do Estado ficam no noroeste e norte, onde a Parmalat e a Elegê dominam o mercado. O Rio Grande do Sul é o terceiro estado produtor de leite, ficando atrás de Minas Gerais e Goiás, onde a Nestlé mantém unidades de beneficiamento de leite e derivados.
Os municípios com potencial de receber a empresa também fazem mistério e guardam suas propostas a sete chaves. Duas, pelo menos, despontam como as mais prováveis para vencer a queda-de-braço: Santa Rosa (Terra da Xuxa) e Carazinho. O prefeito de Santa Rosa, Alcides Vicini (PP), ofereceu à Nestlé uma área de 20 hectares, há duas semanas em São Paulo, em almoço com o diretor do grupo no Brasil, Carlos Faccina. Outro ponto forte é o lobby do secretário estadual da Saúde, Osmar Terra, natural de Santa Rosa e amigo de Faccina.
No dia 18 de agosto foi a vez do prefeito de Carazinho Alexandre Goellner (PSDB) fazer a sua oferta de 42 hectares para o distrito industrial da Nestlé. A cidade é sede da Parmalat nos pampas. Ele viajou para São Paulo com mais quatro prefeitos da região, levando na bagagem as potencialidades e a organização dos produtores de leite. Também correm por fora outras cidades como Santo Ângelo e Ijuí. A última chegou a estar nos planos da multinacional suíça, pelo seu potencial hídrico – no lençol freático corre água mineral da melhor qualidade.
Água em abundância – Não fosse pela localização estratégica das duas regiões do Rio Grande do Sul com os países do Mercosul, tudo conspiraria para um investimento de peso no setor de alimentos, visando as exportações. Porém, talvez, o maior interesse da Nestlé esteja com o pé no presente e os olhos no futuro. No subsolo das regiões noroeste e norte corre água em abundância – os principais afluentes formam a grande bacia do rio Uruguai, parte do denominado Aqüífero Guarani.
O Aqüífero Guarani é o maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo. Está localizado na região centro-leste da América do Sul, entre 12º e 35º de latitude sul e entre 47º e 65º de longitude oeste e ocupa uma área de 1,2 milhão de km², estendendo-se pelo Brasil (840.000 km²), Paraguai (58.500 km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina (255.000 Km²). Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total), abrangendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. (Caros Amigos/Agosto)