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2005-08-26
A Expedição Peixe-Boi Amazônico, realizada pelo Centro Mamíferos Aquáticos/Ibama, em parceria com o Conselho Nacional dos Seringueiros, permanece nesta quinta-feira em Parintins (AM). A expedição partiu de Santarém (PA) com destino a Manaus no dia 16 de agosto com objetivo de levantar dados sobre a situação do peixe-boi amazônico (Trichechus inungis) nos rios e lagos da região.

Além de identificar os locais de ocorrência da única espécie de peixe-boi fluvial do mundo, a expedição também tem o objetivo de tentar reverter o hábito das populações ribeirinhas que ainda caçam o mamífero aquático. A caça, praticada à exaustão a partir da colonização do Brasil, levou o animal à situação de risco de extinção. Ao passar pelas comunidades, os pesquisadores fazem palestras, distribuem cartazes, bonés e camisetas na tentativa de sensibilizar os ribeirinhos em favor da preservação do peixe-boi.

O trecho Santarém-Manaus é a quinta etapa da expedição que começou em 2000 e já percorreu os rios Solimões, Negro, Purus e Madeira (AM), Tapajós, Arapiuns e Amazonas (PA), além de lagos e igarapés tributários desses rios. Parques nacionais, estações ecológicas, florestas nacionais e reservas estaduais nos dois estados também já foram pesquisados. Os pesquisadores visitaram cerca de 600 comunidades, totalizando aproximadamente 18 mil entrevistas com os ribeirinhos.

Na maioria das comunidades, a confirmação da existência do peixe-boi indica que a espécie ocorre em praticamente toda a bacia amazônica. Os ribeirinhos também confirmam que a caça do peixe-boi para a alimentação ainda é um hábito entre as populações locais. — Há relatos de caça em todos os lugares por onde passamos. É isso que nos preocupa-, afirma a bióloga Fábia de Oliveira Luna, coordenadora do Projeto Peixe-Boi Amazônico. Segundo ela, os ribeirinhos apreciam a carne e a banha do peixe-boi. Partes do animal também são usadas em práticas de medicina caseira cuja validade científica não foi comprovada.

De acordo com a pesquisadora, a manutenção da caça é atualmente a principal ameaça à sobrevivência do peixe-boi amazônico. O animal tem ciclo reprodutivo lento – uma cria a cada três anos, em média. Cada animal caçado representa uma perda significativa para a biodiversidade, principalmente no caso das fêmeas. A contaminação das águas com o mercúrio dos garimpos e a introdução de animais exóticos (de outros países), tais como os búfalos também põem em risco a sobrevivência do peixe-boi amazônico.

O animal é um mamífero aquático herbívoro. Alimenta-se do leite da mãe até os dois anos. Só depois dessa fase é que o filhote passa a se alimentar de capim. Tem preferência pelo mureru, tremebeca e canarana. O pasto dura até um terço do dia de um peixe-boi. Ao se alimentar, o peixe-boi mantém o equilíbrio da população de capim que poderiam tampar a passagem das águas entre os igarapés. O capim triturado serve de comida para os peixes e suas fezes ajudam a fertilizar os rios, promovendo um equilíbrio ecológico fundamental para a manutenção das florestas.

Filhote morre antes de receber o socorro especializado
Ao chegar a Parintins ontem no final da tarde, os pesquisadores da Expedição Peixe-Boi Amazônico se depararam com uma situação limite. Funcionários do escritório do Ibama haviam acabado de chegar de uma comunidade no lago de Muriacá, no município de Nhamundá, trazendo um filhote de peixe-boi com cerca de um mês e meio que estava sendo criado em um cativeiro doméstico na comunidade de Nossa Senhora do Rosário do Bom Jardim. Era uma fêmea.

Delibitado pelos tratos inadequados que recebeu e extremamente magro, o filhote respirava com dificuldade. Após receber o primeiros cuidados no barco da expedição, o animal começou a dar sinais de recuperação. O Ibama de Parintins conseguiu o apoio da Total Linhas Aéreas para o transporte do filhote até Manaus, onde seria tratado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA. Antes de ser embarcado na aeronave, porém, o animal parou de respirar. O carcaça do filhote foi congelada e será enviada ao INPA nesta quinta-feira para a autópsia.

O filhote apreendido pelo Ibama havia sido capturado pelos ribeirinhos há cerca de vinte dias. Sua história provavelmente é a mesma de diversos outros filhotes que chegam ao Ibama quase mortos. Normalmente as mães são atacadas pelos pescadores interessados na carne e na banha do animal. Descartados, os filhotes acabam morrendo de inanição ou são pegos nas redes de pesca e levados para os quintais das casas, onde sevem como animais de estimação. Frágeis, os peixes-bois precisam de condições adequadas de vida para poder sobreviver. Sem essas condições, eles morrem ou são entregues para as autoridades ambientais já quase sem vida. (Ibama, 25/8)

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